Aqueles lábios que falam
Parados no instante
Escrevem o sentido de sentir
Mexer com o coração que bate
Ritmado pela saliva que se cola
É o doce sabor de um encosto
Momento em que o tempo para
Fica estático no fogo que incendeia as almas
Lugar onde se escondem as paixões
Desejos que deambulam por entre tremores
Esses medos que deslavam a caricia
Mas estes lábios trazem a paz
Transformam a mentira no dia
E a noite na Verdade
Eles adormecem os olhos
E apontam os sonhos
Deriva-se entre dois lados
Duas fronteiras onde nos dividimos
O querer e o pensamento
O querer de um mergulho
Uma descida a uma escuridão tão reluzente
Que pensamos estar noutra dimensão
Noutro mundo sem parente
O pensamento da viagem que talvez nunca volte
Dessa travessia onde se questiona
Onde a interrogação de um segundo
Pode nos separar de um futuro
Saudades daqueles lábios
é navegar por entre as sombras das imagens
Das fotos que trespassam o coração
Sitio onde escondemos os sentimentos
Os mesmos que nos levam a dividir o beijo
A meio, com a metade do nosso ser
E a parte daquele que queremos
Que nos faz impelir sorrisos desmesurados
Insurrectos na quantidade
Esses rasgares de boca que nos conduzem
Até ao topo da montanha que nos abraça
Com os braços do mesmo que nos beijou
E ali sentimos que as prisões são de papel
Pois do simples beijo vêm as estações
Os tempos que determinam o rumo
O caminho por onde vamos seguir
Juntos, sempre de lábios colados
Como gémeos que distantes
Se tocam no silencio da ausencia
A paixão daquele beijo traz o sentido
A orientação para o que os astros nos falam
Estrelas que descem até ao fundo do poço
E o preenchem com respostas
Frases que nos atiram para a beleza do nosso destino
Traço anunciado que a Vida decidiu
Apenas por um beijo
não por apenas
mas mais pela paixão de se sentir
e nunca se poder fugir
simplesmente ao que se sente.