podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
24 de Junho de 2010

 

 

 

Saramago.

Escrevo só hoje sobre o falecimento de José Saramago, porque assim deixei acalmar o intenso pó que foi levantado com o desaparecimento corpóreo deste grande escritor. Mas não morreu, é bom que todas as pessoas se recordem disso. Ele vai continuar bem vivo. Mas falava do pó, porque a nossa cultura teima em repetir-se, séculos atrás de séculos, ou seja, só quando uma pessoa morre, é que vem todos de pompa e circunstancia, gritar aos sete mundos, ou colinas, o quanto conheciam ou admiravam tal pessoa. E vem aqueles que se aproveitam do sucedido, para reclamarem qual demanda lusitana de eterna defesa da obra e do pensamento de Saramago. E no meio disto tudo, ainda se discute a ausência do Presidente da Republica, que deu uma bela de uma desculpa ( enfim), e aproveita-se para mais uma dúzia de farpas. E já não falo dos eternos críticos à sua opção de viver em Lanzarote, esses que seriam os primeiros a abandonarem Portugal, se pudessem, enfim, vazios. Mas, já agora, alguém sabe qual seria a vontade de um homem, que cresceu na humildade da desgraça, que viveu criando o sue caminho árduo, que foi escorraçado, mas que sempre acreditou, um homem que sabia qual a face da verdade, que sem medo enfrentou todos os monstros de Quixote, que foi mal amado no seu pais, até ao dia em que numa bela manhã ( ou não), um titulo, um prémio que o reconhecia como escritor mundial, eterno, o colocou no pedestal da casa daqueles que hipocritamente o tinham escorraçado. E hoje, depois de falecido, como sempre, fazem jus à sua obra.

Somos assim mesmo. Mesquinhos. Pequenos. Eternamente minúsculos. O pensamento lusitano perdeu-se nas eras da história, ficou enterrado nos cemitérios do esquecimento.

Sabem o que a Ditadura fazia para desviar os olhares das populações, dos problemas do pais? Propaganda. Benfica. Fado. Fátima. E hoje, o que temos? Futebol. Papa. E os fait-divers do falecimento de um grande homem. Então, não estaremos numa ditadura? E se sim, o que fazem? O que pensam e como demonstram esse pensamento?

Pois, termino as minhas reflexões sobre Portugal, com um poema a esse homem, que continua vivo, goste-se ou não dele, mas ele está bem vivo. A ti, Saramago:

 

Qual cavalo que rasga o vento

Quais asas que contrariam o céu

Qual gota que inverte a corrente

Qual raiz que contrasta a terra sem véu

És pedaço de universo sem fim

És oceano sem chão, sem beira de água

És a estrada que colide no horizonte

A chama que se desmembra do fogo sem dono

Tens o dom no branco de um papel

A virtude na palavra de um final

Mas mesmo que feches o que nunca se abriu

Serás sempre o desfolhar das páginas do utópico

Teimosas frases que lubrificam o que ainda será pensado.

Fica, como sempre estiveste, na ironia de um sorriso

Essa verdade que te estamparam no fóssil olhar de um futuro

A ti, meu bom homem, que cresceste como flor que procura o seu sol.

Até breve, sempre ou mesmo já, nas palavras ou no gosto do silencio.

publicado por opoderdapalavra às 21:56

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Junho 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
18
19
20
21
22
23
25
26
27
28
29
30
Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
5 comentários
4 comentários
4 comentários
3 comentários
2 comentários
2 comentários
2 comentários
mais sobre mim
pesquisar neste blog
 
últ. comentários
José Hermano Saraiva costumava dizer que a pátria ...
Ao ler esse texto senti orgulho no peito, o mesmo ...
Encontrei o texto hoje...Uma pequena correcção, as...
Obrigado Isabel. Concordo consigo, os Amigos apena...
Carlos, bonita homenagem a um amigo. Que o Luís re...
O que mais me chama a atenção, neste...
A tua escrita acompanha o teu espírito. Amadurece ...
Grata, sorrisos :o)
Quente.Arrebatador.
Leitura muito agradável :)Convido a leitura do meu...
blogs SAPO