podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
28 de Abril de 2015

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E ele voltou. Regressou à origem, raízes de onde estendeu todo seu corpo, inerte no pensamento de apaixonado. Regressou como no primeiro dia, de mochila pelas costas, o sol a cair-lhe no rasto, a sombra a morrer na estrada. Os passos eram pesados, deixando cair cada pé, como se deixa cair o peso de uma memória. E assim era a sua caminhada, a da lembrança, das inúmeras recordações que pulavam como pequenos gafanhotos do baú do seu inconsciente. Não conseguia dominar tanta fortuna que amassava toda a pobreza do seu coração. Estava em pequenos pedaços de papel riscado.

Voltou e abrandou perante ela, sem a olhar, sem lhe fixar as retinas. Escapou os olhos pelo chão, pelo alcatrão rarefeito. Deixou o corpo em silencio. Cabeça tão baixa que ela percebeu que lhe escapava por entre os ramos. Foram apenas segundos, aqueles que o manteve ali junto do seu tronco. Descolou-se dela e foi até junto da mesa. A antiga mesa onde escrevera os poemas. Aqueles que recitou pela noite, com a lua já alta e vestida de um brilho ofuscante. Os mesmos que levaram os lábios a adocicarem-se, as mãos a tremerem umas nas outras, os corações a gritarem pelas borboletas que se remexiam nos estômagos. Depois ficavam as estrelas, não as do céu que já lhes caia sobre as cabeças, mas as que se desenhavam nas paixões que absorviam um do outro.

  • Deixou-te?
  • Não quero falar.
  • Mas tu não falas. Sentes. E quando o fazes, todas sentimos.
  • Quero cair aqui mesmo, enterrar todo o meu corpo nesta erva fresca, nesta terra suja, e deixar-me comer pelos torrões. Já não tenho paixão para me aguentar nem amor para viver.
  • Pareces um abandonado. Um desalojado do seu sentimento. Se vens à procura de pena, de um ramo ou folha de sentimentalismos baratos, vai-te embora. Aqui não recebemos aqueles que caíram no poço e aí se afogaram, e ainda nem notaram.
  • Então porque me deixaste ir naquele dia? E nos dias a seguir? E nos seguintes ainda? Sempre que vinha até esta mesa, escrevia como se fosse um duende das palavras, uma espécie de mágico da floresta que construía poemas que até encantavam os pássaros, esses que chilreavam como verdadeiros apaixonados. Porque me deixaste ir, agora que me jogas no lixo?
  • Sabes uma coisa. Olha para mim. – ele quase não conseguia erguer a cabeça. Foi preciso um grito mais sonoro, um que acordou a floresta, que fez o vento despertar e abanar todas as árvores que por ali pareciam adormecidas – olha para mim já te disse!
  • Sim, estou a olhar. O que queres? – levantou o cabelo, o queixo, os lábios que tremiam enquanto os olhos esvaziavam-se em lágrimas. – estás contente de me ver assim?
  • Não te interessa se estou contente ou não. Interessa-te outra coisa.
  • O quê, árvore sabichona?
  • Interessa-te olhares-te no espelho do teu ego. Sabes o que te estragou? Não foram os poemas, nem as horas que junto a ela viveste a doçura dos corpos, ou mesmo os silêncios que ambos partilharam na sombra dos nossos troncos. O que te estragou foi a tua vontade de a quereres apenas para ti, como se fosse uma espécie de objecto que escondes do mundo e só mostras aos teus olhos. E sabes que essa jaula fê-la fugir, fê-la assustar-se como um pequeno mosquito e logo escapou-se para onde a tua figura não pode ser avistada.
  • Se calhar tens razão. Mas o ultimo poema não era para ela fugir. Era para lhe mostrar o quanto a amava.
  • Ela leu-o?
  • Não. Rasgou todos os outros na minha porta. Deixou-me pedaços e em pedaços. O resto não vale a pena contar, porque foi apenas a minha agonia até aqui.
  • Lê o poema.
  • Para quem?
  • Para mim. Fecha os olhos e imagina-a. Ela está diante de ti, por uma ultima vez. Tens a oportunidade de lhe mostrares o que vai dentro de ti, para lá das ervas daninhas do teu ego.

Ele apagou o olhar. Torceu o corpo com força, arrepiando o banco e o chão. Estendeu as mãos sobre a mesa. Molhou os lábios como sempre fez. Inspirou com toda a força que lhe ia, ainda, na alma. E deixou sair,

Se soubesse escrever,

daquelas palavras que se dizem magicas,

daquelas letras que se tornam ilusões,

conseguia,

pela caneta que escorre,

que se deixa cair por entre dedos,

atormentados de tanta paixão,

um poema.

Sim, a simplicidade de uma poesia,

sem grandes pinturas,

cores,

formas esculpidas no ouro,

prata,

bronze,

ou riqueza que possa existir.

Seria apenas um pequeno presente,

um embrulho onde se coloca,

com um sorriso,

uma pitada de paixão,

alguns pós de admiração,

uma brisa de desejo,

e um oceano de amor.

Pouco para ti,

pois uma princesa como és,

habituada à fortuna da beleza,

mostrarias por certo,

em pequeno gesto,

um laivo de doçura.

Mas para mim,

servo que se arma a teus pés,

seria entregar-te o mais valioso,

o mais puro,

o segredo dos segredos,

o meu coração.

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E voltou o silencio. Ela deixou-o chorar como uma criança. Deixou-o entregar-se à dor que vinha do peito e lhe explodia na face.

Ela chamou o vento. Ele chegou depressa, soprando uma rajada. Dobrou-a até os seus longos ramos tocarem o chão. Reparara que na mesa, o caderno mantinha-se aberto, nos longos e sentidos poemas que ele escrevera. Virou-lhe uma página. E com outra rajada o vento soprou-a para que deixasse uma pequena joaninha na folha. Depois regressou ao seu lugar.

Ele mantinha-se fechado no seu mundo de sofrido. E ela chamou então o sol. Ele ergue-se do horizonte, ainda meio adormecido, e rasgou toda a floresta. Pediu-lhe alguma descrição. Ele percebeu de imediato. Os seus raios foram tão intensos, que ofuscaram tudo o que se conseguia perceber com o olhar. A cegueira chegou à floresta. O sol caiu dentro dela. Houve um tremor que a própria terra sacudiu, quando as raízes se estenderam até aos pés dele. Foi quando, assustado, acordou do seu sofrer. Estava tudo demasiado brilhante. Tinha a insciência dos sentidos. Esfregou-se nas pestanas. Algumas não suportaram e caíram pelo deslize dos dedos. E estava de costas para a mesa, quando tudo ficou mais claro, como se o brilho fosse um nevoeiro intenso que deixava o horizonte invisual.

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  • Não é para mim que deves estar a olhar. – não percebeu. – eu sou uma árvore apenas. Estou aqui todos os dias, e todos os dias estarei, até ao dia em que a brisa da manha quiser que o meu tronco caia pelos aromas da tarde. Nesse momento serei apenas uma memoria. O que guardas de mim, nunca saberei. Mas de ti, levarei na minha seiva, o teu rosto, o teu sorriso, as tuas palavras que escreveste junto a nós, encostado a mim. Os beijos que trocaste na minha sombra, os jogos de escondidas que permutaste comigo. Mas levo algo mais importante, levo a ternura do teu coração. – ele levantou-se e preparava-se para a abraçar – espera. Antes desse abraço, quero que leves algo meu. – e deixou cair uma pequena folha. O aroma era da primavera. Ele acolheu-a nas mãos. E depois de lágrimas e sorriso, abraçou-a com a força que um homem pode ter. Tão forte que se invadiu por todas as que por ali viviam. Todas se abanaram, quando experimentaram o encrespar das raízes dela. – agora vai.
  • Embora?
  • Não. Vai, vira-te, que alguém espera por ti.

Aquele corpo de homem, meio trémulo e pouco recomposto de tanto afecto, inverteu-se e foi quando o seu espanto o deixou mais do que tremer. Um terramoto passou-lhe pela pele. Junto à mesa, sentada, sorridente como sempre, de lábios mélicos, olhos abertos para engolir o mundo, cabelos que o vento dançava, corpo de princesa, estava aquela que o seu coração tinha jurado amar. Ficou tão absorto que nem se movia. Mas um galho dela veio e empurrou-o. Segredou-lhe ainda que admirava todo o seu sentir.

Ele sentou-se a seu lado. Ficaram em beijos. Ficaram em percussão da pele. Ficaram, ali, onde veio o sol e junto com a lua, abraçaram-nos. Lá em cima as estrelas brilharam tanto, que se diz pelos povos vizinhos que pequenas fadas vieram até aos terrenos dos homens, dar picadas de amor.

Um dia, um certo dia de verão, a manhã trouxe uma brisa que subiu pelo tronco já velho. Levou-o no aroma da tarde e quando chegou o sopro da noite, ficaram apenas as memorias. Um dia alguém foi muito feliz debaixo da sombra daquele castanheiro. Mas certo dia, alguém voltará a ser feliz, debaixo de uma árvore qualquer.

O mar, sempre que traz a maré, traz noticias do velho castanheiro, alma que viaja pelas brumas do horizonte. Está feliz e sorri sempre que o fresco das ondas vem à areia e molha os pés dele e da sua amada... e dos seus pequenos príncipes.

Os finais nunca são felizes, conversou-lhe ela um dia de outono. Mas podem nunca ser finais, se a felicidade for descoberta na seiva de cada um.

O resto é apenas viver para lá do que o dia nos traga, vendo sempre as mesmas coisas com outros olhos.

- Já viste que nunca sou igual durante o ano. Mas serei eternamente igual no teu coração.

 

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FOTOS CA

 

 

 

 

 

publicado por opoderdapalavra às 01:13
26 de Abril de 2015

"Sempre que você se perder, Sei que voltará sempre a casa"...

 

 

Hokusai diz: Olhe com atenção.

Ele diz: preste atenção, repare.

Diz: continue a olhar, tenha curiosidade.

Diz: o olhar não tem fim.

Ele diz: tenha esperança de chegar a velho.

Diz: continue a mudar, assim entende melhor quem realmente é.

Diz: fique emperrado, aceite isso, repita-se sempre e enquanto algo for interessante.

Ele diz: continue a fazer o que gosta.

Ele diz: continue a rezar.

Diz que cada um de nós é uma criança Cada um de nós é um velho, cada um de nós tem um corpo.

Diz que todos temos medo.

Diz que cada um tem de encontrar a maneira de viver com medo.

Ele afirma que tudo está vivo: Pedras, edifícios, pessoas, peixes, montanhas, árvores.

A madeira está viva.

A água está viva.

Tudo tem vida própria.

Tudo vive no nosso interior.

Ele diz: viva o mundo no seu interior.

Ele diz: não importa se desenha ou escreve livros não importa se corta madeira ou pesca.

Não importa se está sentado em casa e observa as formigas da varanda ou as sombras das árvores e as ervas do seu jardim.

O que importa é que se importe.

Importa que o sinta.

Importa que se aperceba.

Importa que a vida flua através de si.

O prazer é a vida a viver através de si.

A alegria é a vida a viver através de si.

A satisfação e a força são a vida a viver através de si.

A paz é a vida a viver através de si.

Ele diz: não tenha medo.

Não tenha medo.

Olhe, sinta, deixe que a vida lhe dê a mão.

Deixe a vida viver através de si.

In Mindfulness de Prof Dr Mark Williams e Dr Danny Penman

publicado por opoderdapalavra às 14:59
24 de Abril de 2015

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escreve a lágrima,

escrevem as goticulas que traz a chuva,

escreve um Deus qualquer,

escreve o silêncio.

escreve aquele que olha sem olhar,

escreve o corredor que não termina,

escreve o corpo que já não tem corpo.

escreve um grito,

salvo de dor que explode no vazio.

escreve o tempo que nunca foi a tempo,

escrevem os que vem,

e todos aqueles que vão.

escrevem as memórias que se escondem,

como sombras,

negras formas que adormecem os cantos,

lembranças que deixam de recordar.

escreve o vento,

que traz o último sopro,

o derradeiro suspiro,

de quem fecha a porta,

perde a chave,

e espera pela voz que clama o seu nome.

escreve o poeta,

sem palavras,

perdido num peito sem sentido,

riscado,

amarrotado,

na branca folha dos dias.

e escreve a morte,

que abraça a vida,

em beijo,

em troca de olhares fortuitos,

e deixa-a,

nos dias,

noites,

no eterno escrever da solidão.

publicado por opoderdapalavra às 10:50
22 de Abril de 2015

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Hoje não. Hoje não te vou estar grato por existires, ou fazer alguma coisa que possa mudar a minha atitude para contigo. Hoje não me peças. Porque? Os Homens, esses mesmo que todos os dias não querem saber de ti, que inventam todas as desculpas para te evitar e assim te destruir ainda mais e mais...os mesmos que não querem saber se as tuas árvores tem vida, se as tuas flores podem ser o brilho de um dos teus momentos mais belos, se as tuas pedras tem sentimentos e sentem o que lhes fazem, se a tua terra é pura e dela pode vir a vida na sua essência...os mesmos que inundam os teus oceanos, rios, ribeiros, com lixo e lixo inesgotável...esses que não querem saber se tens ou não recursos inesgotáveis, existes é para os servir e não o contrário, os mesmos que matam os teus filhos, todos eles, desde o mais microscopico até ao mais marcante na sua forma, que agora até te abandonam para que outros planetas possam ser destruídos como tu...esses mesmos inventaram um dia em tua Honra. Um dia. Temos 365 dias num ano, nesse tempo que os homens inventaram, mas apenas num dia o teu nome é proferido, pelos confins do egoísmo. É no Facebook, blogs, jornais, televisões... São associações que dizem defender-te, são pessoas que se dizem moralmente capazes de dizerem que querem o melhor para ti, são governos que aparecem a plantarem uma planta que logo é queimada... Sabes que eu não sou o teu filho perfeito. Não quero ser. Porque perfeita és tu, em todo o teu esplendor. Sabes que faço-te mal também, que abuso dos teus recursos. Mas sabes que te peço desculpa, que não é altruísta esta minha atitude, mas é uma vontade de te amar a forma como te trago no coração. Se os homens pudessem falar contigo, escutar toda a sabedoria que tens para partilhar connosco. Todos os dias. Ainda ontem, quando falava com um dos teus eucaliptos, abraçava-o e dava-lhe o pouco amor que tinha para lhe dar. Pouco, porque é sempre pouco o que te posso dar, perante aquilo que me ofereces. E falava com ele, desabafava o que na minha alma vai explodindo. Ele escutou-me e falou-me com ponderação e sabedoria. As suas raízes são puras e honestas. O seu tronco verdadeiro e os seus ramos honestos. Como tu. Hoje muitos irão colocar gostos, comentários a defender-te, palavras que retiram do baú dos seus ecos para dizerem "eu sou um exemplo, eu sempre amei a terra mãe"... Quando ninguém, humano, ainda conseguiu ser teu filho de verdade. Porque na verdade, para ti não existe justiça ou injustiça, existe apenas a essência da existência, da renovação constante, de um Amor por tudo inigualável. E inventa-se um dia para ti. Apagam-se luzes, separa-se lixo, fazem-se orações, dizem-se palavras de gratidão, discursos de ligação energética, e depois...dia seguinte, piloto automático que "a Vida continua"... Pois, numa coisa tem razão, a Vida continua, sempre, como Tu, Terra Mãe, Vida em Vida, que vais sempre continuar, assim, sem dias ou noites, sem horas ou meses necessários para que tu saibas quem de facto és, como és e o que és...algo que os Homens a quem pertenço, inventamos dias para nós lembrarmos-nos do que de facto andamos à procura... De nós próprios! Ainda inventaremos o dia do Humano, para tentarmos recordar que somos teus e não o contrário. Até amanhã Mãe. Um beijo deste teu filho que te Ama, mesmo que não da melhor forma, mas todos os dias e sem te pedir nada em troca.

publicado por opoderdapalavra às 11:51
13 de Abril de 2015

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Foto CA

 

 

Eram horas e nem o dia tinha dado conta delas. Esquecera-se e deixou o sol cair sobre o horizonte. A noite começava a despontar. Mas houve quem se esforçou por segurar os últimos toques de luz. Arremessou os seus braços compridos sobre os últimos raios, puxando-os para junto da ponte, e ainda assim deixou que algumas estrelas viessem sarapintar o céu. As árvores estavam agora mais sossegadas. Tudo estava pronto. A ponte arrumada, a água que engalanava-se à passagem, os últimos pardais que vieram cantarolar pelos recantos da floresta e eles os dois. Cada um chegou e deixou-se estar na sua margem. Parecia que aquela ponte, aquela travessia era a mesa, o chilrear os violinos, presenteados pelos odores deslumbrantes das primeiras flores da primavera, e lá em cima onde o céu se perde no infinito, as estrelas davam o toque das velas. Faltavam os olhares. Tímidos, recatados como enamorados. Mas eles surgiram. Vieram devagar como se pede. E as mãos agacharam-se por detrás dos corpos, embaraçados por não saberem o que fazer. Nestes momentos, são muitas as coisas que se intrometem, como que estando a mais.

Foi quando a árvore mor, um eucalipto, deu-lhe um empurrão. Tão forte que ele ficou a meio da ponte. Do outro lado, um espinheiro, apertou as pernas dela, que deu passo atrás de passo, até chegar junto dos seus olhos. Estavam tão juntos, que até sentiam o sabor dos lábios e o perfume da pele, um do outro.

  • Queria dizer-te tanta coisa, mas não sei o que te diga. – ele corou como pequeno. Tanto que umas folhas de azinheira esconderam-se no tronco, e até se escutou um sorriso maroto. – Sinto-me nervoso, tanto que o meu coração era capaz de fazer ondular a corrente do rio.
  • Eu também me sinto assim – ela vergou um pouco o olhar, disfarçando-o no ombro esquerdo. Tinha também um rosar da pele no rosto.
  • Posso pegar-te a mão? – Nesse instante as raízes de todas moveram-se, arrepiadas e sôfregas de que ela aceitasse.
  • – ele pegou, suavemente, docilmente, a sua mão direita. Sentia uma leveza, uma frescura que o transportava para o cume dos iluminados. Sorriu acanhado, no espanto de sentir o belo, ali na sua tão pequena mão. Ela ergueu aquelas duas lindas bolas de cristal, que enaltecem toda o seu rosto. Olhou-o devagar, como se fosse possível olhar-se alguém de quem se gosta, devagar... como se pudesse amar devagar, como se conseguisse dominar o impulso de beijar, devagar.

Os lábios juntaram-se dois num. A soma. As árvores, todas elas, sem distinção, junto das flores, dos troncos velhos, dos ramos caídos, das folhagens verdes, todos ficaram deliciados no ventre daquele beijo. O sol, em assombro, não se deitou, e olhou a lua, que longe na distancia abria-se em luz. Os dois fitaram aqueles que na ponte se uniam, e deixaram-se estar, casando o dia com a noite. Até os pardais se calaram. As andorinhas chegaram e repousaram em honesta alegria, nos longos ramos dos eucaliptos. Houve o castanheiro, já idoso como o tempo, que quase expirou, não fosse a grande pedra o suster.

  • Então meu caro, já não aguentas a força do amor?
  • Não meu amigo. O Amor é que me faz cair de ardor, de admiração. Dá-me um abraço, meu amigo, porque preciso de chorar em ti gotas de seiva que me apertam a alma.

A pedra deixou que o velho companheiro se dobrasse sobre ela. Correram lágrimas. E correu um sorriso de ambos, ali, abraçados.

E sem tempo de existir o tempo, ali ficou o mundo, junto num beijo. O poema foi escrito pelas palavras que trouxe a pequena brisa do mar. Também ele quis adorná-los com o seu toque de magia.

No beijo ficou o tempo e no tempo ficou o Amor. Na junção de duas margens, ligou-se a passagem de duas almas que se amam. E chegou, assim sem se notar, por fim, a Primavera.

 

publicado por opoderdapalavra às 00:06
12 de Abril de 2015

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A bicicleta ferrugenta de Amir teima sempre em descolar a corrente de duna em duna. O pequeno rapaz de chapéu cor de ocres de pó, dá duas voltas com as pernas e tem de parar de novo. Baixa-se e de mãos calejadas pelas voltas, cai em esforço e força, a colocar aquele pedaço de correia seca e gasta, no lugar. E duas pedaladas à frente, de novo, o mesmo. Mas todos os dias Amir tem de passar por este esforço quase desmotivante, só para ir levar o almoço à avó Magdur, que teima em não deixar o vale dos mortos, vale onde o rio já secou, onde as pessoas já partiram para longe, onde as plantas emigraram, onde só ela e duas cabras velhas se mantém.

“Aqui está o teu avô Amir. Ali onde a terra comeu os ossos. E não posso deixá-lo sozinho. “

Amir é filho de beduínos que habitam a montanha dos vivos, pequeno lugar onde se avista todas as dunas do deserto, da areia que desenha horizontes, que toca o céu sempre que se enfurece. É onde se vê o sol que acorda e a lua que vem grande e cheia e logo se eleva nas estrelas.

Este rapaz sempre que chega junto da avó fica à espera de uma estória, de uma conversa daquela sua antepassada de pele em queda, olhos quase apagados e corpo que se perde no meio de dois mantos tão idosos como ela. Sonha com o rio que traz a água fresca, com o verde dos arbustos, com as palmeiras em série.

“Morreu tudo meu filho. Havia tempos em que até eu era bonita.”

“E és avó.”

“ Isso é o teu coração que o diz. Mas os teus olhos mentem.”

“ Mas a avó sempre me disse que o avô enquanto teve pele além dos ossos, lhe dizia o mesmo.”

E ela sorria-lhe. Ele atirava sempre 30 pedras para o lugar onde o rio secara. Não as contava, porque Amir nunca soube o que são números, mas juntava sempre esse calculo de pedrinhas soltas. Era a forma de contar o tempo. No fim, ia-se embora com um abraço apertado da sua avó.

E naquele dia, depois de ter parado já umas quantas vezes para endireitar o rodar da soga da bicicleta, foi quando caiu em joelhos de espanto. Mais abaixo de uma duna, a não muita distancia do acampamento onde morava, um ser estranho estava deitado junto a algo colorido. Cores diferentes das normais e mais que habituais ocres, amarelos e pouco mais, que sombreiam toda a atmosfera de vivencia do jovem. Não. Tinha um pé que se elevava, e parecia um bico em crista. Aproximou-se devagar. O ser deitado deu por ele e logo se ergueu. Tinha uns olhos redondos, demasiado grandes. O seu corpo era todo transparente. O manto cobria-o no todo.

“Quem és tu?” Amir tremia em susto. Todo o corpo era um manto retalhado em medo.

O ser não lhe respondeu, fechando-se no meio do disfarce que o cobria e sumiu no nada, como se de um mágico se tratasse. Amir estremeceu ainda mais. Fala-se em espíritos perdidos, em almas que ficam a flutuar presas nos confins do deserto. E depois olhou ao que havia ficado na areia. Uma flor. Amir reconheceu pela forma, era igual à que sua avó já lhe contara. Correu atrás para ir buscar a amada mulher de longos anos. Sentou-a na bicicleta e esqueceu a correia. Empurrou-a areia acima. Quando chegaram até os olhos da senhora que vivera já mais do que o próprio tempo não conseguiram arrumar as lágrimas. Sentou-se junto à flor. Uma flor no meio do nada, no meio do fim do mundo, onde nenhuma semente conseguia germinar. Mas ali estava, uma flor. Pé verde, bico como um pássaro e crista em amarelo e azul.

“É uma estrelícia.”

“Como sabes avó?”

“ O teu avô um dia trouxe-me umas sementes. Disse-me para as deitar à terra sagrada do rio e cuidar delas. Tempos depois elas estavam grandes, lindas e coloriram toda a margem. São as aves do paraíso. O teu avô antes de partir, antes de fechar os olhos, falou-me de como as conheceu. Numa viagem ao mar. Lá onde perdes os pés do chão e os deixas ir na frescura da água que nunca conheceste além da do poço velho. Ela leva-te para longe. Tão longe que podes ver os pássaros voarem, assim de bicos às cores e cristas em tons tão belos que nem os nossos sonhos conseguem desenhá-los. E um dia choveu, disse-me ele. Um forte vento trouxe uma chuva de flores. Todas eram as mesmas, como bandos, cobriam todo o céu. Pareciam ter asas, mas caiam rasando as cabeças, rasando a água, a terra. E cobriram tudo o que era morto em vida. Tudo o que era cinzento, pedra e seco, em cores, em alma, em espírito que enchia os olhos de alegria. O teu avô pegou em sementes e trouxe-as. Disse-me na noite antes de se apagar que quando ficasse corpo sem coração, sem sentir, eu colocasse todas as estrelícias que ainda cobriam as margens, sobre o seu corpo. Para que elas, como pássaros do paraíso o pudessem levar para longe, para onde os pés deixam a terra e os levam o mar.”

“ Avó, mas e aquele homem estranho, de olhos grandes que estava aqui ao pé dela?”

A pergunta trouxe um sopro de vento. Forte, cheio de uma areia que obrigava a fechar os olhares. Mas rápido abrandou. Quando as retinas voltaram a ver a luz, o ser coberto pelo manto, de olhos grandes e redondos e corpo transparente, estava de novo junto à estrelícia, ao Amir e sua avó. Mas desta vez chegou-se mais perto, como se quisesse tocar. Não tinha boca, não se via na cara mais nada senão os olhos. Levantou um braço e com um dos 3 únicos dedos tocou na testa de Amir. Este tinha já quase o corpo em falecimento, tanto o medo que havia tomado o lugar do sangue. E nesse momento o rapaz sentiu uma voz. Não vinha de fora, da boca da avó ou de algum dos sons que o deserto provoca. Vinha de dentro.

“ Olá Amir. Sou eu. O teu pássaro do paraíso. Não temeis. Vim porque o teu avô me pediu. Sou esta flor, e vim do sitio onde o céu cobre a terra e o mar inunda o horizonte. Ele quis que visses que a vida é mais do que a correia da tua bicicleta, que é mais do que a duna que vês ao fundo da tua tenda. Ela é mais do que o sol que te acorda e a lua que te deita. A Vida é o teu sonho, aquele que tens em ir em viagem até onde a terra acaba e o mar te leva os pés. “

E logo desapareceu. Ficou o rapaz em espanto e a avó em joelhos. A estrelícia nunca se moveu.

A velha senhora, anos que se contaram no tempo, repousa agora na terra que lhe come os ossos, ao lado dos mesmos do seu amado. Tem no seu dorso a estrelícia que a levou a voar até ao mar. Lugar onde os olhos de Amir assumem o desassossego do coração, de um sentir único e vasto dentro do seu sonhar. Viajou com o nome de quem amou e ama. Dias e noites a repor a corrente da bicicleta. Comeu cactos, bebeu água castanha, mas chegou. Aqui o vento não traz a areia, o cheiro não é seco e quando pôs os pés descalços junto ao mar, uma onde veio e levou-os com ela. Conta-se que quando ele já apenas navegava em corpo pela espuma do oceano, que veio um ser transparente, acompanhado de estrelícias em voo e o levaram, pelo céu, para onde o horizonte toca o infinito. Lá onde o sonho é mais do que uma simples bicicleta de corrente descolada.

Hoje, todos os anos, junto à margem de um rio que voltou a correr, num vale que deixou o nome dos mortos e ganhou o dos vivos, nascem e chovem estrelícias, como pássaros de um paraíso dos sonhos.

 

 

publicado por opoderdapalavra às 01:31
09 de Abril de 2015

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Foi pelo cair do sol. A sua sombra caminhava na frente, como quem teima não descolar do corpo. Por mais que ele se desviasse, ela fitava-o desde logo e imitava-lhe as passadas. Os seus olhos estavam no chão, lendo todos os pedaços de alcatrão, as pedras soltas, os torrões que a terra deu, os ínfimos galhos que por ali permaneciam deitados na solidão e rebentos de ervas que ladeavam a estrada. Carregava uma pequena mochila pelas costas e um bastão pela mão esquerda. A direita tinha uma flor. Aquela que apanhara quando o sol ainda não tinha germinado a sombra. Fora junto ao mar. Esteve sentado durante umas duas horas, assim fez os cálculos pelo tempo que rodou o universo. Fechava por vezes os olhos e sentia a tontura do planeta, girando no seu próprio centro. Foi contando e contando até sentir que eram horas. Nunca pensou que o tempo fosse assim tão importante, vê-o como um fragmento, uma pequena folha de castanheiro que se solta e tem que voar pelo mundo fora, sempre diferente, sempre igual, mas nunca dependente.

Quando chegou à ponte, viu-a. Até a sombra descansou, quando ele se sentou. Olhou-a como quem olha o sonho. De olho em brilho, lábio riscado a sorriso e um certo tremor no queixo, nervoso de quem se permite arrepiar com o assumir da admiração.

  • Sabes porque estou aqui? – no ar ficava apenas o eco dos últimos cantos de pardais que afoitos, atarefavam os últimos pormenores para mais umas bicadas no ninho. Ficou ainda o vento, que chegava sempre pela noite, vindo de norte. Não trazia noticias, mas vinha sempre com as estrelas pelas costas. Mas hoje veio mais cedo, porque o dia ainda não se deitou. – Tu sabes, eu sinto que sabes. Estou aqui porque precisava te falar. Não tenho mais ninguém a quem confessar.
  • Eu sei – foi quando sentiu a resposta. Ela não fez voz, mas fez palavras dentro de si. De olhos fechados ouviu-a.
  • Tenho o coração aos saltos. Parece que pula como um menino desenfreado, louco pela paixão que lhe rebenta no corpo.
  • Porque sentes essa sensação?
  • Porque a vi ao longe.
  • Conta-me como foi.
  • Eu tremi. Ela não me viu. Estava de princesa. De vestido em tons claros, sapatos coloridos pelo arco-íris e um sorriso que transpunha o horizonte e trazia de volta toda o pigmento do por do sol de verão. Eu sentei-me atrás de um poste de luz que por ali estava. Fiquei durante o momento em que o autocarro percorre a rua acima, dá meio quarto de volta na rotunda e atravessa-se em frente à entrada da sua escola. Foi ai que ela deixou a minha vista perdê-la. Ainda tentei acompanhar aquele mesmo autocarro rua acima, dois quartos de volta noutra rotunda, e depois desapareceu na esquina. Mas em rápido fechei os olhos, com a força de um mundo, e desenhei-a no meu pensamento. Toda ela. Não ficou a faltar nenhum pormenor.
  • E por isso agora sentes o palpitar.
  • Abraça-me. – ele levantou-se e fê-lo. – Mas sem força, apenas com todo o teu sentimento. Quero senti-lo. – Nem a sombra foi capaz de o impedir. Ficou até a luz se apagar, as estrelas começarem a pintar o céu, e o som dos sapos da ribeira espalhar-se pela floresta e seus mais profundos recantos. Sentou-se, sem nunca deixar de a abraçar, e adormeceu.
  • Dorme comigo hoje. Deixa-te ficar aqui junto ao meu tronco. O teu sentir alimenta as minhas raízes, o teu coração espalha-se por todo os meus galhos. Deixa-me ter um pouco dessa tua paixão.

A manhã chegou. A sombra estava deitada no sentido oposto ao que se tinha acamado. Havia uma frescura pelo chão, pelos poros de oxigénio que se respirava, pelas plantas, pela água que cantava enquanto rasgava o trilho. Os seus olhos abriram-se devagar. Havia uma névoa que ensombrava a retina. Mas quando ela se dissipou, ficou espantada. Olhou a árvore. Estava seca ainda na noite, e agora de folhas verdes e resplandecentes. Magia.

  • Grata pelo amor que me deste.
  • .. – o seu gaguejo ficou surdo nas palavras dela.
  • Não temas quem és, o que és, e o que sentes. Vai e diz-lhe o que está dentro de ti. É o que sentes, e nada pode ser-te roubado, nem mesmo o momento em que lhe disseres que a amas. Se ela ficar no silêncio, tu ficarás sempre na presença, na feição do teu amor por ela. Não esperes o que podes ter, espera tudo o que podes sentir, despertar e partilhar. Os outros são os outros. O que interessa em ti é o que vive dentro de ti. E hoje deste-me a beleza da pureza do teu sentir.

Ele chorou. Deixou cair lágrimas pela cara. E quando a sombra já se unira a ele, foi. De mochila, de bastão, de peito em riste de tanta sensação. Foi, procurou, encontrou, falou. Fez-se silêncio. E ele pressagiou todas as palavras que a sua amiga, a árvore junto à ponte, lhe tinha escrito na alma. E ficaram ali, de olhos nos olhos. O autocarro chegou. Parou. Arrancou, e quando contornou dois quartos da rotunda e desapareceu na esquina, os olhos continuavam nos olhos. E assim a folha do castanheiro, que voa pelo mundo fora, contou o tempo em que o amor despertou.

No fim, sempre há um fim, findar, terminar, acabar... a árvore manteve as folhas verdes a dançarem no vento que chegou pelo cair do sol. E até a sua sombra se deixou ficar, feliz.

 

 

publicado por opoderdapalavra às 23:35
08 de Abril de 2015

 

 

 

“- Há uns anos – começou o gordo – escrevi um ensaio que começava com a seguinte frase: O canal do parto e o caixão são dois espaços desenhados para um só corpo.

E isto, Damião, para mim, quer dizer que nascemos sós e morremos sós. Esta ideia, tão assustadora do meu ponto de vista, é talvez a lição mais dura que tive de aprender ao longo do meu próprio processo de crescimento.

Mas também descobri, felizmente, que existem companheiros de viagem: companheiros durante um pequeno período de tempo e companheiros durante longas temporadas. E depois, existem ainda os amigos, os amores, os irmãos: companheiros de uma vida inteira.

  • Sabes que mais, gordo? Lembra-me uma coisa que li algures sobre o amor: Não caminhes à minha frente, porque não conseguiria seguir-te. Não caminhes atrás de mim, porque poderia perder-te. Não caminhes debaixo de mim, porque poderia pisar-te. Não caminhes em cima de mim, porque poderia cansar-me. Caminha a meu lado, porque somos iguais.
  • É bem verdade, Damião, é isso mesmo. É fundamental perceber que ninguém pode percorrer o caminho por ti. E também que o caminho é mais satisfatório se percorrido com companhia.

Aperceber-me de quem sou e saber-me único, diferente e separado do mundo pelo limite da minha pele não quer dizer forçosamente que deva viver isolado, nem desolado, nem sequer que tenha de ser auto-suficiente.

  • Então não se pode viver sem os outros?
  • Depende do que tu aches que deves viver em cada momento e de quem são os outros.

 

 

Aquele homem viajara muito. Ao longo da sua vida, visitara centenas de países reais e imaginários...

Uma das viagens que mais recordava era a sua curta visita ao País das Colheres Compridas. Chegara à fronteira por acaso: no caminho de Uvilândia a Paraís, havia um pequeno desvio em direcção ao tal país. Como gostava de explorar, seguiu esse caminho. A sinuosa estrada terminava numa enorme casa isolada. Quando se aproximou, reparou que a mansão parecia dividida em dois pavilhões: uma ala oeste e uma ala este. Estacionou o automóvel e acercou-se da casa. À porta, um cartaz anunciava:

 

PAÍS DAS COLHERES COMPRIDAS

ESTE PEQUENO PAÍS DE APENAS DOIS QUARTOS,

CHAMADOS PRETO E BRANCO. PARA PERCORRER

DEVE AVANÇAR PELO CORREDOR ATÉ ONDE ESTE SE DIVIDE

E VIRAR À DIREITA, SE QUISER VISITAR O QUARTO PRETO,

OU À ESQUERDA SE QUISER CONHECER

O QUARTO BRANCO.

 

O homem meteu pelo corredor e o acaso fê-lo virar primeiro à direita. Um novo corredor com cerca de cinquenta metros de comprimento terminava numa enorme porta. Assim que deu os primeiros passos, começou a ouvir aís e uis que provinham do quarto preto.

Por instantes, as exclamações de dor e sofrimento fizeram-no hesitar, mas decidiu avançar. Chegou à porta, abriu-a e entrou.

Sentadas à volta de uma mesa enorme estavam centenas de pessoas. No centro da mesa, viam-se os manjares mais requintados que qualquer pessoa poderia imaginar e, embora todos tivessem uma colher para chegar ao prato central, estavam mortos de fome! O problema era que as colheres tinham o dobro do comprimento dos seus braços e estavam presas às suas mãos. Assim, todos podiam servirem-se, mas ninguém conseguia levar a comida à boca.

A situação era tão desesperada e os gritos tão terríveis que o homem deu meia volta e saiu a correr da sala.

Voltou à sala principal e meteu pelo corredor da esquerda, que levava ao quarto branco. Um corredor exactamente igual ao anterior desembocava numa porta idêntica. A única diferença era que, pelo caminho, não se ouviam queixas nem lamentos. Ao chegar á porta, o explorador girou a maçaneta e entrou no quarto.

Centenas de pessoas encontravam-se também sentadas à volta da mesa igual à do quarto preto. Também ao centro se viam manjares magníficos e todas as pessoas tinham uma colher na mão.

Mas, aqui, ninguém se queixava nem lamentava. Ninguém morria de fome, porque todos davam de comer uns aos outros!

O homem sorriu, deu meia volta e saiu do quarto branco. Quando ouviu o clique da porta a fechar-se, encontrou-se imediatamente de volta ao seu próprio automóvel, a caminho de Paraís.”

 

In deixa-me que te conte, de Jorge Bucay.

 

 

 

publicado por opoderdapalavra às 22:44
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