podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
23 de Fevereiro de 2015

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Olá ao Mundo.

Hoje escrevo. Apenas escrevo. Faço 44 anos. A junção de dois números que contemplam o tempo. O meu tempo de vida. O meu percurso, a minha rota, aquela estrada por onde tenho vindo a caminhar.

Durante estes anos, foram tantas as pessoas que encontrei, as pessoas que cruzaram o meu olhar, as frases que proferi e os silêncios em que me escondi. Escutei palavras que me ensinaram tanto, momentos que me fizeram chorar como criança escondida por detrás das sombras, risos de adolescente em modo “sonhar em ser grande”, e reflexões que me obrigaram a crescer ou decrescer. Hoje somo toda a soma de tempos que fui vivendo e o seu resultado é apenas um numero...mais, muito mais do que isso. Não posso subtrair todo o copo cheio que é o meu passado. Arrepios de dor, salvas de alegrias, abraços de paixão, beijos de solidões que me obriguei a ter. Sim, obriguei-me a ser solitário em muitas ocasiões, pois estar comigo, com quem sou, o que sou, foi encontrar-me com a vida, namorar com a doce existência de um universo, envolver-me com o corpo de uma natureza que me deixou sempre penetrar por entre a fina textura do amor.

Hoje segredo ao vosso intimo que tenho em mim uma visão de amante pelo que me rodeia. Estou ligado, ligo-me, deixo-me ligar, levo-me a ligar, obrigo-me a ligar a tudo. Às árvores, às flores, plantas, à terra que adorna os contornos, ao mar, ao rio, à chuva, ao sol, ao vento, aos animais, os que caminham, rastejam, voam... às pedras, aos sons, aos odores, aos sabores...às pessoas, às coisas, boas ou más, interessantes ou não, e ao caminho, o meu caminho.

Hoje, diante de um computador, sentado em riste, com um copo de vinho a deleitar-me a alma, escrevo. Apenas escrevo. Sonho de menino que sempre se deitou olhando a lua, nua de preceitos, nova ou cheia, sempre segredei o desejo escondido, quase num proibido sentido de viver. Escrever. Nos pergaminhos da história estava escrito que nascer, estudar, crescer, ser homem, casado, filhos, emprego dos bons, casa em conformidade e carro para mostrar, poupança para um dia ajudar quem criei e um dia morrer no soslaio de um caminho não percorrido...mas esta criança nunca foi de modos. Revoltas, ser que sempre quis gritar aos sete cantos do mundo que não se é palhaço sem um sorriso, não se é mágico sem cartola, nem se é gente sem pensamento próprio. Sofre-se por ser-se diferente, qual alienígena que desceu dos céus para enraizar seu sémen. Mas deitar-me sobre o manto da ignorância, de qual vida nefasta de desígnios estabelecidos, não. E a lua dizia-me que sonhar seria sempre a fé escondida no meu coração.

Não sou Super-heroi, apesar de quase querer deixar essa marca. Não. Escrevo com medo, receios, profundos tormentos de quem é humano. Como todo o animal que sente, alinha todas as suas sensações conforme o obstáculo que enfrenta. Mas sabe que o caminho é ultrapassar esse mesmo obstáculo. Mesmo que as pernas tremam. A Fé é a luz que ilumina, a candeia que nunca se apaga. Descobri-a dentro de mim. Onde tudo reside. Fora é apenas o resultado. Como acharmos que 4 é apenas a soma de 2 mais 2. Não. 4 é o numero que resulta da soma de dois mundos, semelhantes, idênticos, que se encontram e juntam-se num só, mais forte, mais sustentável, mais crescido.

Sou uma casa. Sem portas. Sem janelas. Apenas com a designação simplista de uma habitação onde todos entram, podem ficar, conhecer, e descansar se necessário. Depois, bem, depois podem partir ou ficarem. Mas todos deixam algo. Agradeço tudo o que deixam, de bom ou menos bom, porque me ensinaram tudo o que sou hoje e serei amanhã. E acreditem, nada sei. Sou um ignorante. Um humilde aprendiz de viver. E tenho um enorme desejo em aprender. Mas alguns dos que partiram, fizeram-no em corpo, deixando a sua alma. A eles o meu preceito de guardá-los em memoria, amando-os como sempre foram amados. Não aprisiona-los, como cheguei a fazê-lo ( afinal quem não o fez uma vez, pelo conforto de guardar quem ama), mas a deixá-los ir, olhando as fotos da lembrança.

Por fim fica a Vida. A minha amante, o meu amor fundido entre o ver e sentir. Sei que este corpo não será infinito. Sei que na Vida existe uma palavra em que nos despedimos do olhar e nos deitamos com o indefinido. Sei que serei apenas pó um dia, restos de anos, meses, semanas e dias. Sei que serei uma memória, uma pequena lembrança perdida no sótão. Mas a paixão pela Vida, pelo que ela partilha comigo é mais do que essa palavra, esses futuros combinados. Ela é a ninfa que me inspira todos os momentos, todas as fracções de segundo que respiro. Ela traz consigo uma mistura agridoce, eu sei. Mas é isso que a faz mais cativante. Afinal quem de nós não o é? Virtudes e defeitos. É isso que tem de maravilhoso. É na imperfeição que está a perfeição. A Vida é isso mesmo, o corpo perfeito com a personalidade imperfeita, ou perfeita, mas que não pode ser como o desejamos. Estou-lhe grato todos os dias. Pelas sensações, pelos momentos, pelos pensamentos, pela força, pelas vivencias, as lições, pela coragem, pelo medo, pela cor e pelo escuro, pelo equilíbrio das forças, e muito, mesmo, pelo Amor. Esta é a força das forças. É a Fé, é o sentimento, é o sentido, é o caminho.

Grato à Vida pela oportunidade. Todos os momentos ela brinda-me em estar aqui. E com tudo pelo que luto, combato. Mesmo que não, por vezes, da melhor forma, mas afinal assim é que as coisas tem piada, pois rir de mim próprio também é ser vida na Vida.

Hoje que faço uma junção de dois números, anos que já vivi e que me preenchem tanto. Hoje olho e ajoelho-me agradeçendo ao meu nome, ao meu corpo, à minha alma, ao meu deus ( palavra que tudo significa), ao universo, à vida, às pessoas, aos animais, à Natureza Mãe, ao Mar Pai, aos meus Mestres... e estou grato a todos. E existe algo a quem a minha gratidão por este numero é Supremo. À ideia de sentir-me uma migalha, uma minúscula existência, que faz parte do Todo em Si. Só assim poderei ser mais um, mas um que vive na soma de todos, logo pode sempre alterar o resultado da soma.

Deixo-vos com o sonho. Escrever. Simplesmente e humildemente escrever. Esta semana convivi com alguém que tem a paixão da Vida no olhar, nas palavras, na música, no coração. Retive uma sensação dele, um descolamento do real para o sonho quando sente a paixão pelo que ama. E é isso que sinto quando escrevo.

talvez um dia

algures num deserto qualquer

o meu nome seja proferido

como pequeno grão de areia

que se juntou ao todo dos grãos

e num forte sentido do vento

se moveram e construíram a duna

de onde os meus olhos avistam

a Babilónia dos meus sonhos

onde talvez um dia

o sol queime as arestas do ódio

e deixe apenas o conteúdo do amor

para que possa ser vida na Vida!

 

Grato Vida!

Sejam felizes... e,

“Não faças planos para a Vida para não atrapalhares os planos que a Vida tem para ti!”

Agostinho da Silva.

 

publicado por opoderdapalavra às 00:01
14 de Fevereiro de 2015

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Foi escrito no livro dos tempos que hoje devia falar-te de amor. Fiquei confundido, perdido no meio de uma tempestade de pensamentos. Estive horas e mais horas eu estive, sentado junto à janela, vendo as nuvens juntarem-se, formarem uma mescla de cinza e depois chorarem como almas perdidas. Tudo para reflectir porque teria eu de, apenas um dia, uma vez ao ano, falar-te do que te falo todos os dias?

Sim, porque o Amor não é uma palavra apenas. Amor é estar em silencio a teu lado, é dar-te a mão quando te levantas, beijar-te pela noite e sorrir-te pela manhã, é escutar as tuas raivas e as tuas alegrias, abraçar-te quando choras e voltar a abraçar-te quando ris. É discutir contigo...sim...eu disse isso, discutir contigo, demonstrando que sou diferente de ti, que te enriqueço com os meus argumentos e tu a mim com os teus. É respeitar essa diferença e enaltece-la aos sete cantos que o mundo tem. É aprender a conhecer-te e saber que nunca te conheço. É ter dor e ter prazer. Amor afinal é ser muito mais que a palavra em si. Por isso porque é que tenho de ter um dia para te dizer que te amo, quando outros 364 em que vivo esse Amor? Dizer é pouco, aliás, não é nada. Viver é imenso, é ser vida em ti e contigo. Por isso, amanhã dir-te-ei aquilo que hoje vivo contigo, o Amor. O resto são apenas peças de um automóvel sem remendo, consumos furtuitos de quem ainda pensa que amar é um dia acordar e perguntar afinal quem é que está ao nosso lado.

 

 

publicado por opoderdapalavra às 17:26
07 de Fevereiro de 2015

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Quero partilhar convosco uma sensação única. Quando ouço falar do Alentejo, escuto as palavras sobre o silencio, o verde que inunda os campos, as pessoas para quem o tempo parou há demasiado tempo que o próprio tempo se esqueceu que o tempo existe, um sol que inunda o mundo de luz, o azul do céu que nunca padece da sua cor, e os cheiros, os odores repletos de liberdades que nos transportam pelos sonhos de criança. Mas isto é o que se escuta. Agora viver o Alentejo é experimentar mais do que se ouve. É libertar todas as amarras que detemos aos portos dos nossos sentidos e deixarmos ir o barco, pelo mar azul fora, sem destino, sem a prisão dos dias, sem a noção de um tempo que nos controla os sentidos. É navegar por entre uma maré serena, repleta de cores e feitios deslumbrantes, e entrarmos nas entranhas de um qualquer paraíso onde deus chegou e deixou-se estar, descansando do longo trabalho do universo. Sentado numa eira, vejo-o chegar com o seu corpo honesto, e deixa-se cair a meu lado. Na ausência de ruídos, deixamo-nos estar, descansando. Lá fora, o mundo vai rodando e rodando, enquanto os nossos olhos fixam o horizonte, onde tudo parece roçar a perfeição. Ele dá-me um abraço e parte na penumbra no anoitecer, dizendo-me “deixa-te estar que aqui estás a salvo”. Eu, como bom aluno, fico com os anjos, sábios senhores da noite, que me guardam. Partilhamos conversas sobre a vida, o passado que ficou lá atrás, e o futuro que é um conto de fadas. Adormecemos como crianças, ouvindo o zumbido dos grilos que preenchem a escuridão das estrelas com o seu cantar.

Aqui existe uma vida diferente, não consigo explicar, mas ela não se mistura com o frenesim dos carros, as corridas das semanas, com o stress das gentes que ainda não descobriram que afinal deus criou o paraíso ali mesmo ao nosso lado.

Fico com um sorriso simples nos lábios. O corpo deixo-o estar, descansando com esse homem que criou tudo isto, e que se deixa cair no repasto deste Alentejo onde, de facto, o tempo se esqueceu do próprio tempo.

publicado por opoderdapalavra às 23:35
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