Vou-te enterrar.
Não tenho outra alternativa
Os gritos que explodiram em mim assim o obrigaram
As vozes aconselharam-me a fazê-lo, sem pudores
A enterrar as tuas palavras,
O teu corpo, o teu sentido, tudo o que significas.
Adiei o teu funeral porque acreditava
Que fosses o meu destino, um caminho com um fim
Mas apenas foste um momento, fase trépida de pensar
Onde me levaste as noites, mesmo os segundos
Em que não fechava os olhos, tinha-os presos
Nos pensamentos vadios e vazios
Onde me obrigavas a suster o ar e a viver-te
Com dor, sofrer de quem não queria nem sonhar-te
Mas foste ficando, em silencio, e entraste em mim
Como uma aragem pela manhã que pensava limpar-me
Mas conspurcaste o coração e fizeste dele um amontoado
De trapos de ideias que invadiram-me a coragem
E aprisionaram-na numa pequena caixa, junto ao chão
E trouxeste os medos, traumas de quem está deitado no labirinto
E rias de mim sem que eu soubesse como sair de ti
Mas tudo tem um the end, escrito na tela do nosso filme
E o teu está a passar, mas sem que a minha fita esteja terminada
Apenas te enterro para despertar o que a verdade escreve
Em poema, numa frase, num sentimento
Nunca é tarde para se começar
Sempre demasiado cedo para se acabar...
Assim te enterro e viro as costas
Abraçado aos que me sempre apararam
E nunca se riram de quem muitas vezes fica escravo
Mas que um dia solta as correntes
E grita ao mundo, a liberdade não tem tempo
Apenas dá a oportunidade de ser sentida.