Imaginemos uma partícula atómica. Um átomo, a simplicidade de algo que constrói outro algo. Vou dar-lhe um nome, homem. E vou-lhe atribuir um local de vida, uma bela represa junto a um rio, onde a água suavemente se detém perante o silencio, e as duas árvores que se banham no seu leito. O homem está deitado num relvado. Sente a energia que lhe cobre o corpo, afinal ele é 99, 99999 por cento de energia e apenas 0,11111 de forma física. O sol que se estende, com os seus enormes raios, pelo azul do céu, rende-o ao calor. A ausência de qualquer som, de qualquer odor, de qualquer sentido palpável, deixa-o sossegado.
Mas agora vou introduzir na cena um outro átomo, de nome mulher. Bela, repleta de luz. Ela caminha pela vereda de erva, descendo até à represa. Tem sede. O sol deixou-a exausta e sequiosa de umas gotas de água. O homem sente corrompido o seu silencio. Ergue-se e repara nela. Sente o impulso de mover-se até ela. Esta sente a sua chegada e vira-se. Ambos ficam estonteados com a presença do outro. Alguém semelhante. Alguém que, apesar de diferente na composição, é um átomo, uma partícula atómica.
- Como te chamas?
- Homem. E tu quem és?
- Mulher.
- Interessante. Não sabia que existiam outros iguais a mim. Apesar de seres um pouco diferente na tua composição.
- Queres sentar-te um pouco. Estou cansada.
- Claro.
E ficaram os dois sentados, observando todos os contornos do outro. Sem julgarem nada, apenas admirando a forma.
Esta pequena história de nada tem interessante... talvez não, mas tem energia, porque de facto se um átomo é constituído por mais energia do que físico e nós somos uma constituição de átomos, porque nos preocupamos mais com o físico do que com a energia?
E também, os átomos, como as pessoas, são iguais, mas tem de ter a sabedoria de se descobrirem, e não ficarem escondidas atrás das sombras, dos apegos.
Boa noite. Até breve. Grato.