Tudo o que conto aqui
É apenas uma linha do que vivi. Nem sei se é verdade, de facto, aquilo que escrevo e porque escrevo, mas sei que se o fizer, talvez me sinta melhor.
Muitas vezes ficamos perdidos no sentimento de termos de contar um acontecimento, mas aumentando-lhe sempre uma mentira, pequenina, só para que não fique tão despida, a linha que temos de escrever.
E aqui, nesta onde conto o que vivi, não sei se hei-de mentir, ou então apenas contar o que mesmo estive quase a viver.
Se for a verdade, a linha começa e logo termina.
Se colocar uma mentirinha, ela inicia-se, dá um pequena corrida até ao extremo da folha e ali fica, mas sempre se tornou mais um pouco comprida.
Se inventar uma mentira ainda maior, ela dá duas e três voltas à folha branca, e cai no fundo com um texto que levou tanta fantasia, que mesmo eu fico a pensar:
Será verdade tudo isto que vivi?
Talvez seja mesmo melhor ficar por aqui, sem linha, sem contar tudo o que aqui conto, por mais apenas que seja só aquilo que eu, um dia, talvez, nem sei, vivi.