podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
27 de Março de 2013

 

Foto retirada do Facebook de Pedro Gonçalves da Nomad.

 

 

Caminhei horas. Caminhei pelo fio que aquele ribeiro traçou entre dunas de um deserto perdido. Como eu. Perdido entre o tempo e o destino. Deixei de saber que existe tempo, e deixei de saber se haveria destino.

Caminhei sempre sem norte ou se teria o sul nas costas. Que orientação precisaremos, se nem precisamos a direcção que procuramos? Afinal, bastava-me caminhar, sem necessitar de precisar o rumo.

Caminhei sem querer parar, porque parando poderia perder a sensação de sentir. Passo após passo, os meus pés borbulhavam sentimentos de dor. Sofrer pode-se tornar a única forma de nos sentirmos vivos por aqui. 

Caminhei, mas agora precisei mesmo de parar. Porquê?

Porque precisei de olhar. Os olhos trazem-nos a oportunidade de tornar visível o mundo. 

As dunas que serpenteiam o horizonte. O ribeiro de água translúcida com os raios do sol. O céu que se pinta de um azul bebé. O sons que adormecem no silêncio. Os cheiros que se misturam no vento. 

A minha mochila cai. O meu caderno solta-se, saindo de dentro dela. Com ele um lápis que se amarra a ele, como que namorados em paixão. Palavras. São palavras apenas, aquelas que me apetece escrever. Soltas, seguidas de parágrafos e sem pontuação. Que as folhas consigam abarcar tamanha vontade de descrever a simplicidade de tudo o que olho. Assim, simplesmente presenciando que afinal o parar é deixar de viver e passar a ser vida. 

Diferente viver e ser-se vida. Diferente entre sobreviver e saber que se consegue mesmo assim, viver. Difícil descrever estas emoções. Talvez porque é isso mesmo, a simples separação do que podemos sentir e do que realmente conseguimos alcançar.

Já estou deitado. O frio vem acolher o meu corpo. Traz uma manta gélida consigo, e deita-a sobre mim. Sinto-me coberto pela mágica temperatura da noite. Mágica porque impulsiona-me a procurar abrigo. O mesmo onde a chama do fogo dispara sombras no peito dos rochedos.

E lá em cima, as estrelas. Chegaram e nem dei por elas. São tantas que pesam o céu. Deito-me para me defender de tanto céu que se abate sobre a terra. E deixo-me ir pelo sono, e pelo encanto de tantos pontinhos de luz que me acompanham nos sonhos.

E caminho. Noutro mundo, noutros lugares, noutras dimensões. 

Adormeço num lugar onde o tempo passou ao lado. Aqui não se conta, não se consegue. Aqui apenas se pode ver e sentir. E fico com a pergunta: se o tempo não existisse, seria assim tão importante saberes quantos anos ainda tens para caminhar?

publicado por opoderdapalavra às 00:36
06 de Março de 2013

 

 

 

 

Há dias em que não consigo escrever uma palavra sequer. São dias em que luto somente com as ideias. É difícil lutarmos com aquelas que parecem surgir como formigueiros. Sinto, nesses dias, que as palavras entopem-se umas às outras, na ponta dos pensamentos. Quero escrevê-las e não saem. Apenas sai uma série de frases repletas de adjectivos, todos muito bem construídos, todos muito ostentosos, mas todos sem nenhum nexo. Apenas experiências mal paridas. Nada mais.

Há dias assim, que mais vale ficar parado. O silêncio ajuda muito nestes dias. Ele traz-me uma espécie de novo ar, novo encanto. Fico ali, parado, sem pensar muito, e fico ali, fechado. O fecharmos o pensamento, ajuda a encontrarmos de novo o caminho. Parece sempre teoria, mas a prática sucessiva do silêncio, faz-nos despertar para a realidade de que a teoria também pode ser praticável a 100%.

Gostava de poder contar o som do silêncio. Gostava de conseguir transmitir o seu sabor. Gostava de obter a sua voz. De facto, muitas vezes nem noto nele, mas ele está lá. À minha espera.

É como a folha em branco, sem ser escrita, fica ali, à espera que eu a abrace com palavras. 

Há dias assim...

publicado por opoderdapalavra às 23:14
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