podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
17 de Janeiro de 2013

Hoje o meu menino virou homem. Deixou de ser aquele pequeno que sorria ao fim da tarde, encostado à árvore, das poucas que ainda conseguem sobreviver ao desnorte da seca e do calor intenso das terras de Munimaka. O meu menino deixou de ser homem por ordem da cultura do seu povo, dos costumes de querer casar menino de rua, menino que corre de pé descalço e que brinca com berlinde de pedra. Menino que sonhava, menino que dançava na utopia de crescer ainda menino, tornar-se rapaz e um dia ser homem. Mas ele já virou homem, ó mãe de todos. Podia virar bicho do mato, fugir pela estrada e não deixar rasto, podia virar menino esperto, com conhecimento para dar aula nos meninos do futuro, podia ser menino que virasse esperto de futuridade e ser cientista, daqueles que descobrem coisas bonitas para todo o outro menino que deslumbra no aprender.

O meu menino virou homem, e estou triste por isso. Queria vê-lo abraçar a professora, de contente, vestir a camisola que escolhi para ele, o chapéu que tem símbolo lá de longe, de onde os meninos tem tudo e não fazem nada, ver aquele sorriso que me ensina mais do que me prende, ouvir aquele palavra que me arrepia o osso e me joga no barril das emoções, e pegar-me na mão enquanto eu choro de alegria por ver o meu menino, o que não é meu, mas é meu amigo e eu dele. Mas quis a vida que ele virasse homem, longe de mim, no tempo em que os meninos perto de mim pensam ser donos do mundo que não lhes pertence, que pensam que sonhar é coisa fustigada de velho, que pensam em serem patrões em vez de pensarem ser o trabalhador que forma o patrão, que pensam serem reis sem reino mas com posse de rei. E o meu menino nem sabe ainda o mundo que existe muito para lá da estrada, que não é apenas uma estrada, mas são várias, são rios e riachos, são mares e oceanos, são montes e montanhas, vales e planícies, que o mundo tem luzes a piscar, tem apitos a sobrar de barulho e tem pessoas que correm como as gazelas que atravessam os prados da savana, e que lá, nesse mundo longe, existem coisa de criança, de menino como ele, que se chama brinquedo, coisa de brincadeira fácil e divertida, coisa que o meu menino não sabe que existe, coisa que ele perdeu, um dia, apenas porque não nasceu no mundo lá longe, onde os homens são-no mais tarde do que os 15 anos em que o meu menino foi obrigado a casar, e se assim, sem saber, sem descobrir o mundo que palpita para lá do seu olhar, sem descobrir o ensino da professora que queria ajudar, sem conseguir ser o rapaz que muitos atingem ser e que nem sonham que são privilegiados de uma vida que parece escolher apenas alguns, mas que poucos são os que querem descobrir a verdade de ser menino, depois rapaz e um dia, tarde, ser homem, como o meu menino, acredito muito nisso, teria mesmo gostado.

O meu menino já é homem, e eu estou triste. Que sejas feliz, talvez já o foste, no mesmo sorriso que me deste, nesta foto que guardo, de fronte para os meus olhos, diante do meu coração.

Obrigado Agostinho. Até um dia, mesmo que sejamos meninos de novo.

publicado por opoderdapalavra às 01:01
01 de Janeiro de 2013

 

 

 

 

 

 Porque tenho os dedos presos, mordidos pela suave, mas amarga, preguiça de não querer escrever, de não querer ter o trabalho de preencher esta folha branca, toda ela já preenchida por algo que não o vazio, por uma cor, pela denominação de uma cor, de um produto, de um nome inventado por nós para referenciar algo, um objecto, uma existência, uma realidade.

Os dedos escorregam pelas teclas, mesmo presos, e escrevem.

Letras.

Palavras.

Frases.

Sei lá o que eles escrevem, mas que querem e desejam contar uma história, um conto onde possa mostrar uma ideia, um pensamento qualquer. Não sei quem escreve o quê ou como escreve, mas o que interessa é mesmo que a escrita apareça e que a estória ou história seja criada e recriada.

Começo pelo início. A primeira palavra é sempre a mais difícil, a mais complicada, aquela que não parece querer sair. Faço uma força, enorme, uma força que me deixa prostrado, algo cansado, sem conseguir, de facto, conseguir escrever uma só palavra. E a folha fica e continua branca.

Afinal fico, assim, parado, com os dedos presos, os olhos preguiçosos, e a mente vazia. Será que, afinal, o novo ano me levou a imaginação?.. A ver vamos.

Bom Ano 2013.

 

publicado por opoderdapalavra às 21:25
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