podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
22 de Novembro de 2012

 

 

 

 

E se o tempo parasse?

Deixasse assim de contar segundos, minutos, horas. Deixasse de ser tempo e fosse apenas silêncio?

O mesmo vazio de som que paira nos nossos olhares por estes dias, em que a agonia de uma esperança, nos dilata o sofrimento de saber que ela não existe. Mas preferíamos ficar neste momento, a continuar um tempo de exaustão, onde o ânimo fica escondido nas esquinas, amedrontado com a realidade.

E se o tempo voltasse atrás?

O que faríamos para mudar o que sabemos que nos mudou?

Gostávamos de ter esse poder, essa fórmula mágica de controlar quem define o nosso percurso, gostávamos de ter uma espécie de varinha mágica que destruísse o que o tempo destrói em nós.

Mas será mesmo o tempo, o verdadeiro responsável por tudo o que nos acontece, ou seremos nós, sem tempo para sabermos o que de facto queremos fazer dele… o tempo que nos resta até deixarmos de ser apenas caminhantes no tempo…

publicado por opoderdapalavra às 22:50
20 de Novembro de 2012

 

 

 

Fez um dia.

Fez uma semana.

Fez meses após meses.

Fez um ano.

Tudo se faz, e tudo passa fazendo-se e mesmo assim fica tanto por fazer.

Fizeste e ficaste com a sensação que querias fazer mais.

Mas mesmo o que não fizeste, não anula o que fizeste, porque fizeste-lo com alma, com o coração a inchar-te o peito, a soltar-te o grito interior por fazer mais e mais, por quem te devolvia apenas com um sorriso, uma simples demanda de agradecimento, obrigado senhora é muito simpática, palavras que já não habitavam o teu redor, mas que preencheram o teu fazer.

E assim se faz, um passado, um presente e assim se pode fazer um futuro.

Temes que esqueças os fotogramas que retiveste, que não te recordes dos pormenores, ou das formas das faces e dos corpos, mas não temas, porque a feição mais hodierna será sempre aquela que tens na tua alma, a mesma que abriste para deixares sair a vontade de fazer.

E passou, mas tudo ficou, dentro de ti, porque afinal, ainda muito há para fazer… e que venha, pois a tua vontade nunca esmorece no final de cada dia, mais um, para que a memória registe que afinal fizeste pela mudança de quem nada tem, mas por tudo sorri.

 

publicado por opoderdapalavra às 00:15
18 de Novembro de 2012

 

 

 

Gostava de saber o que vocês escondem, aquilo que vocês contam ou não contam. Quando vos olho, apenas sinto a humilde sensação de vos despir, de vos retirar a roupagem que as capas vos galaneiam e me atirar no vosso intimo como um saltador que perpétua o seu honesto e altivo salto para uma água de letras, onde as frases se entrelaçam como pequenos jogos de prazer. O vosso corpo tem formas misteriosas, deliciosamente apetecíveis, onde os meus lábios sorveriam todos os momentos em que o desejo roçasse a paixão. Olho-vos com ternura, mas com a tristeza de vos terminar, naquele preciso instante em que as palavras terminam e se cai num vazio inaudito, onde a voz fica presa nos silêncios do fim. Agarro-vos e aprisiono-vos, na memória, em redutos desnudados de preconceitos, mas onde o conhecimento habita como um ermita assombrado pela dúvida e pela incerteza do tempo em que os meus dedos voltarão, de novo, a tocar-vos, os meus olhos a ler-vos e a minha alma a abraçar-vos.

Em vós não há tempo que o tempo possa esquecer. Em vós apenas vejo tudo o que a história conseguiu escrever nas estórias que em vós se erguem e vivem, mesmo que por uma fracção, a vida apenas possa ser esse mesmo tempo em que vos deitaste em meu regaço, mas partilhaste o mais inolvidável sabor do meu íntimo.  

publicado por opoderdapalavra às 17:36
15 de Novembro de 2012

 

 

Quero pensar na minha morte.

Gostava que ela fosse sossegada, no deitar do sol, com o vento a soprar do sul, trazendo-me nos seus odores, os tons de minha casa, da sua terra meio barrenta que desliza pelos longos caminhos até ao mar. Gostava de fechar os olhos, ainda antes de os findar no infinito, e pensar nas árvores que por lá formam uma diáspora das que por aqui se perderam e já partiram. Gostava de sonhar um pouco os animais, deitados a meus pés, fazendo-me uma última companhia. Não quero pessoas perto de mim nesse momento. Nem mesmo as que amo, pois não quero que os minutos sejam inundados de lágrimas sem fundamento, apenas me vou embora, nada mais. Chorar no último segundo de uma vida é dizer que negamos quem parte, perante todo o resto que ficou escrito. As páginas não podem ser agora desfeitas em memórias patéticas, apenas podem ser deliciadas em sentidos tonificantes.

Quando eu morrer, quero que alguns, aqueles que nunca me conheceram, que nunca privaram nas minhas noites de conversas, de pensamentos, aqueles que nunca comeram na mesma mesa em que eu partilhei o fruto do meu pão, aqueles que nem o meu nome pronunciam, esses que apenas me enrolam num manto de pano, transportam-me ao intimo do forno que abrasa o meu corpo e depois levam-me, em cinzas, até minha casa, aquela que só o vento me traz a sua essência, a mesma onde um dia vi que o mundo tinha olhos. E aqueles que nunca presenciaram o meu ultimo suspiro, quero que eles coloquem as pequenas partículas, que se separam como estrelas que cintilam no esplendor do ínfimo lugar do sorriso, junto das árvores que agora repartem o seu lugar com o meu sentir.

Quando morrer quero que todos os que me amam, fiquem com esse sentimento no lugar onde o semearam, que não me recordem, mas simplesmente desfrutem o sabor dos momentos que vivemos juntos, dos sorrisos, dos silêncios, das palavras que nunca dissemos mas que soubemos que dissemos, das músicas que escutamos, dos filmes que presenciamos, das bebidas que deixamos por beber. Quero que se juntem todos, que falem de mim e de todos vós, porque quero que se conheçam, que partilhem essa toda vossa sabedoria, a mesma que partilharam comigo e não deixem que ninguém chore, nem mesmo pela simples desculpa de um corpo estar em falta. Eu não parti, eu estou onde sempre estive, sem ter que vos tocar os dedos, toco-vos o íntimo, o horizonte do vosso pensamento, dos vossos lábios quando prenunciam o meu nome, no olhar quando avistam o meu sorriso no sorriso de cada um de vós, na pele quando sentem o arrepio que por ali passa, pela simples brisa que entra como um intruso e sai como um filho consumado.

Chamem os meus inimigos, juntem-nos a vós, escutem-nos apontarem-me os defeitos, os mesmos que nunca perdi, apenas porque morri. Façam uma reflexão do que ouvem, dêem-lhes um abraço por serem verdadeiros, comam o mesmo pão, partilhem com eles o copo daquele vinho que guardei de propósito para situações especiais e digam-lhes que são sábios, porque não perderam a liberdade dos seus corações. Digam-lhes depois o que deixei como pequenas virtudes, perdidas nos desabafos que fazia quando me perdia nos recantos de vossas casas, sentado e perdido em lágrimas, as únicas que se podem derramar, porque todos os corpos vivem. Mostrem-lhes as palavras que coleccionamos juntos, as sonoridades que desvendamos unidos. Comam todo esse festim com a altiva a altruísta fortuna de saberem que no dia seguinte, conhecem-se mais e melhor e que iram continuar a fazer o que fazem melhor, um mundo mais rico e mais feliz, porque o meu já o é, apenas porque sei que entre vós, tive a simples sensação de sentir o que da Vida levo melhor, que afinal nunca deixamos de viver, e que o fim é sempre o princípio de tudo.                

publicado por opoderdapalavra às 21:46

 

 

 

e se na penumbra daquela manhã, acordando com o doce ruido dos passaros, pudesse afinal avistar-te, acordando por detrás daqueles montes que desenham o horizonte lá longe, onde apenas o céu se expande. sei que me dirias bom dia, ou apenas ficavas no silencio do olhar singelo desta tua amada, que vem sempre ver-te chegar. ontem, quando te deitaste, fiquei tão só que me parti em dois, corpos que se estenderam pelos longos lençois, revisitando-se pelo encontro dos dedos na pele, dos lábios que arrepiavam caminhos mais intimos, fiquei assim encoberta pelo corpo que não era meu, mas que me adoçicava a saudade de te ver. pudesses tu ver, e ficarias levemente aguçado pelo ciume de não me ter. mas assim se faz os dias, vens com o teu ar sobranceiro, ergues-te com o teu poder de braseiro, e deitas-te, largando-me na escuridão, sem que pelo menos o ultimo beijo, me pertença.

publicado por opoderdapalavra às 00:08
13 de Novembro de 2012

Este é o meu novo blog, mas apenas para divagações filosóficas e outras mais. Este blog mantém-se, mas exclusivo a textos literários.

Visitem-me. Obrigado.

 

 

http://filosofoincorrecto.blogspot.pt/

publicado por opoderdapalavra às 21:19
08 de Novembro de 2012

 

 

Deus deu-me os dedos que desenham o teu corpo

Mãos em que agarro essa tua pele pérfida no desejo,

Deus deu-me os lábios que deliciam-te o intimo,

Humedecem e aperfilham o ventre do teu prazer

Deus deu-me o erecto do teu sentir

Toque que transforma vazios comuns em magias ardentes

Tanto que sonho em perder-me nesses teus beijos doces

Tanto que sonho em ter os teus braços amarrados a este ser

Que tanto sonho em desejo que arde sem se ver

Qual poema traiçoeiro, que ilude almas e vidas no belo prazer

Tanto que sonho em perder-me nesse teu sexo que não me ilude de desprazer

Queria senti-lo de novo em meu leito de viver

Tocá-lo como lívida sensação de uma história encantadora

Na mesma cama onde tanto sonho, dormido que estou em lazer

Amarfanhando os lençóis que abraçam este desejo em te ter

Aqui, beijada e de novo em beijo com estes lábios que adornam

Toda a tua forma e te desejam na estampa de um amor sem pudores

Longe dos alheios pensamentos que destroem os corações

Perto do mesmo Deus que deu esta vontade em te dar prazer

Assim, primeira ou ultima, não quero saber,

Apenas ter-te, assim nos olhos do sorriso do teu ser.

 

 

 

publicado por opoderdapalavra às 22:50
04 de Novembro de 2012

Era um jovem que estudara toda a espécie de livros e indagara sobre as mais diversas filosofias. Não encontrava o sentido da existência. Embora o seu mentor lhe tivesse dito que a razão não era suficiente e que a filosofia, sem meditação e sem uma mudança nas atitudes, eram letra morta, o jovem perdia-se em abstracções metafisicas e recusava-se a fazer as práticas espirituais. Continuava a acreditar que podia resolver tudo mediante a análise filosófica e a investigação intelectual. Certo dia, atormentado, foi visitar o seu mentor e perguntou-lhe:

- A vida faz algum sentido?

O mestre respondeu-lhe:

- As acácias ficam vermelhas, as nuvens tingem-se de verde e os rios são de leite.

- Mas eu perguntei-lhe se a vida faz algum sentido?

- A chuva cai para cima, os olhos falam, os lábios olham, o sal sabe a doce e a rosa cheira a bosta de vaca.

Irritado, o jovem gritou:

- Tudo o que dizes é um sem-sentido!

O mestre respondeu:

- Enquanto não percebes os sem-sentidos, não poderás compreender o sentido.

 

Conto oriental, in Os melhores contos espirituais do oriente de Ramiro Calle

publicado por opoderdapalavra às 23:16
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Leitura muito agradável :)Convido a leitura do meu...
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