podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
30 de Outubro de 2012

 

 

 

 

Afinal quem somos nós?

Afinal que nome poderemos atribuir a esta existência moribunda, onde o princípio da invenção se torna, com o tempo, a consequência da extinção?

Afinal, como podemos pensar ser superiores no pensamento racional, se somos os primeiros a saltar para o abismo, onde o passo em frente é mais do que o simples acto de agir-pensar?

Um dia, um elefante, só e longe da manada, caminhava perante o incerto, esse infinito que deslumbra o horizonte como um medo que assola a mais pura das almas. Deixava para trás, um rasto de pegadas apagadas pelo vento, que soprava suavemente pelo rasteiro da poeira.

Os seus pensamentos abrangiam o tempo, o mesmo que o deteve neste mundo durante anos de rituais, de combates, de procuras, mas um tempo em que sempre fora fiel à sua existência, aos seus semelhantes.

Recorda com romantismo, os momentos em que se banhou naquela lagoa, onde todos os anos, a manada parava para refrescar-se e comer bagas. O olhar pela transparência da água, pelos desenhos das formas das fêmeas que se deliciavam com trombadas de água, pelo corpo, pelas enormes patas.

Recorda com angustia a partida da mãe, a caminho da morte, do tiro que disparado já não regressa atrás, do sangue que escorre pelos olhos, do corte da pele dura, da carne descarnada, do sorriso daqueles que erguiam os dentes de marfim, como prémio. Os homens, a quem chamam de predadores, a quem dizem também defender os seus interesses, os mesmos que sempre foram simples espectadores do espectáculo matreiro do elefante que toca o sino ou do safari em que as camaras se atrapalham em busca da foto mais vistosa… mas são os mesmos que nunca perceberam afinal quem, de facto, são.

Os elefantes nascem e morrem, se os deixarem, sempre no mesmo local. Este elefante, envelhecido, caminha para uma zona fronteiriça, onde o tempo termina e começa o abismo. O sopé da montanha traz-lhe a recordação do momento em que a mãe o aconchegou, pela primeira vez, com a tromba. Saber-se quem é e onde se pertence é como saber-se a razão de tudo e a essência da vida.

Afinal, porque é que vamos percebendo e ficando deslumbrados com os hábitos de todos os outros animais, e menos vamos percebendo a razão da nossa existência?

E o elefante padeceu, junto à mesma pedra onde, um dia algures no tempo, no mesmo percurso sem tempo que sempre habitou a sua mente, no seu relógio biológico, nasceu para um mundo onde a fronteira entre o real e o irreal é apenas o sentido de se saber quem de facto se é.

 

 

 

 

publicado por opoderdapalavra às 22:32
17 de Outubro de 2012

 

 

 

 

Por onde andas, alma minha?

Deveras sofrida, fugiste como raposa esquecida

Deixaram-te morrer no covil dos infames

Onde comeram a tua pele, carne, ossos e os demais

Não deixaram nada de ti, ó alma que partiste

Para longe de quem não te acolheu

Como pátria ínfima do nosso eu

Identidade que nos deste teu nome e teu corpo

Sem pedido de uma troca rebelde

Apenas o amor de uma pátria mãe

Por onde andas, ó alma que já perdi

Ó rima que escrevias o meu poema

Letra que rimavas a minha canção

Som que alegrava o meu sorriso

Abandonaram-te, massacraram-te

Os mesmos que juraram-te, mas cuspiram-te como lobos

Sedentos do teu sangue, que derramas no infinito

Esses que de nada querem, apenas as entranhas dos teus filhos

Os que ainda gritam pela tua vinda

Para que do fundo de um país

Nasça o fruto de uma alma, nova, renascida

Para das cinzas de um fosso

Se criar a floresta de um ar novo.

Aos lobos, deixaremos o que nem a terra quis

Para que morram no sofrimento do seu vazio

E vejam, com os mesmos olhos com que nos mataram

O erguer dos braços que não morreram

E que de novo, ó alma minha, vingaram quem inocente se entregou

À causa de uma pátria sem dono, faminta e mergulhada no poço sem fundo

Estaremos vivos, para que a voz nunca padeça

De gritar por ti, ó alma que de novo, bradas nos corações dos lusitanos

E deles levas a coragem pelas ruas, pelas cidades, pelas aldeias

Pelos povos que do sol e da lua, fazem o ar do renascer

Para que acreditem que na história apenas rezam os que edificaram

O seu nome como heróis da honestidade

E assim, seremos de novo, país, pátria, alma e gente.

 

publicado por opoderdapalavra às 22:52
10 de Outubro de 2012

 

 

 

Gostava de saber como se desenha o teu corpo,

em queda, na queda de uma asa que se fecha

será como um pedaço de papel que desliza o vento?

Ou serás apenas uma ilusão em simulação de um voo?

Gostava de te ver no serão de uma noite de verão,

como se enrola o teu sonho de arrepiares o céu,

com o silencio que espalhas pelo vidrar das estrelas,

e sem notarmos, estás por ali, algures na sombra da árvore.

Gostava de poder subir e cair assim como tu,

Sem o pudor corrosivo do receio vadio,

E deixar-me ir contigo, sem olhar as costas do meu pensar,

Para longe, para onde o mar possa abraçar o céu,

E deixar-me estar contigo, nas sombras ou apenas no galho de um lugar

Qualquer…

publicado por opoderdapalavra às 21:16
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