não me acordes
deixa-me estar na sonolência do mundo
quero dormir sem pensar
sem ter que mesmo sonhar
navegando apenas
pelas ondas que o mar trouxer
esse que nos leva pela leveza da noite
onde posso ser o marinheiro que não fui
comandante do navio sem rede
onde baloiço na cauda da vela
e vejo o horizonte chegar
como se um belo nascer se tratasse
e ali aponto o simples olhar
de um homem que vem nu
despido do mal que lhe pintaram
e da raiz de sangue que lhe regaram
ali ele pode ser simplesmente marujo
deste oceano onde podemos navegar em paz
sem as asas que doem a cada bala que passa
sem o corpo ferido pelas palavras que rasgam
sem a ideia morta antes de ser pensada
deixa-me dormir
porque aqui sou apenas homem
esse pobre que tem nome
essa peça que tem lugar
essa história que tem um caminho a andar.