Greve Geral.
Gostava de começar este artigo com a referência a um texto muito bem elaborado por Desidério Murcho, Professor de Filosofia, que escreveu num ensaio que recomendo, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, com o título “Filosofia em Directo”, sobre Liberdade. Passo a citar os excertos que considero importantes à reflexão:
“ A liberdade é uma componente importante da democracia. Por isso, defender a democracia acarreta pelo menos algumas liberdades. Mas haverá razões para defender a liberdade em si?
Comecemos por distinguir quatro tipos de liberdade:
- Liberdade Politica: poder votar nas eleições e poder constituir partidos políticos, entre outras coisas;
- Liberdade de expressão: poder expor, defender e atacar ideias em público, nos jornais, em livros e no ensino. (…)
(…) Há quem considere erradas muitas das escolhas que os outros fazem. É comum ler intelectuais a lamentar as escolhas da maioria das pessoas, que claramente não preferem o género de coisas que o intelectual prefere. (…)
(…) Com respeito a cada um destes tipos de liberdade, dá-se um fenómeno curioso. Se não falarmos de casos específicos, muitas pessoas serão verbalmente a favor da liberdade. Mas essas mesmas pessoas começarão logo a impor restrições à liberdade mal se começa a especificar: defendem que se deveria proibir os salazaristas de defender os seus pontos de vista em público, por exemplo, ainda que possam ser salazaristas em privado; defendem que se deveria proibir telenovelas ou outros programas televisivos frívolos; defendem que não há qualquer mal com os homossexuais desde que não se casem e não andem por ai de cara à mostra. Mas uma liberdade genuína não pode ser uma liberdade secreta, porque nesse caso toda a gente sempre teve toda a liberdade, no segredo do seu lar – por mais ditatorial que fosse o regime em que viveu.”
De facto a liberdade é uma componente importante da democracia. Mas de facto, também, ela é usada de forma hipócrita , por alguns, ditos democratas. E passo a explicar:
1- Todos os partidos em Portugal defendem a Liberdade, clamam por ela, gritam a voz alta, escrevem-na, usam e abusam dela, mas:
2- Os que estão mais à esquerda são partidos fechados às opiniões internas, a quem se oponha ao secretariado-geral do Partido é afastado, não interessando a opinião, pois sendo contrária à da corrente, do rebanho, é perigosa, logo de excluir. São estes partidos que não permitem que alguém que goste do Salazar se possa exprimir, que não respeitam a maioria das pessoas, chamando-lhes por nomes “simpáticos”, burros democráticos, apenas porque não escolheram a esquerda para governar, os ditos intelectuais… Liberdade?
3- No Socialismo, bem, aqui a liberdade é tanta que não se entende o que de facto é liberdade e não é. Senão vejamos, o socialismo defende que todos trabalham para um bem comum, independente de quem trabalha mais ou menos, todos vão receber o mesmo, logo será livre aquele que se dedica ao trabalho, que o faz com gosto, que o faz bem, receba o mesmo que aquele que se “baldou”, que sabendo que alguém trabalha para ele, colocou-se como dizemos em Portugal, “à Sombra”?... Liberdade?
4- Os partidos da dita Direita, aqueles que se dizem liberais, abertos e democratas ou sociais-democratas, são estes os primeiros a oporem-se à liberdade de certas expressões, como as sexuais, como a hipócrita não escolha do aborto, baseado mais em convicções religiosas do que de consciência, sendo estes apenas exemplos… liberdade?
5- E chego aos sindicatos. Estes são meros instrumentos partidários para ocuparem espaços políticos na sociedade… serão afinal assim tão independentes e por consequência, livres?... Um sindicato deve existir para defesa dos interesses comuns das pessoas e não para uso abusivo e quase ofensivo, de ideais e politicas disfarçadas. Pergunto, algumas vez viram a CGTP concordar com algo, de forma firme, consequente e responsável? Não? Pois, porque o PCP esteve apenas no governo, no pós-imediato 25 de Abril… mas onde fica a defesa dos trabalhadores, a verdadeira?
E falo da Greve Geral. Os sindicatos falam em números expressivos, o Governos defende-se com números reduzidos, ou seja, a novela habitual de marcação de posições, nada mais, mas onde estão os interesses das pessoas?
Ouvi Francisco Louçã dizer que, esta greve é o sinal claro de que a maioria dos Portugueses está contra este governo… mas não foi quase uma grande parte dos portugueses que votaram neste Governo e não no Bloco? E quando vimos as sondagens, não é este Governo que continua em primeiro nas sondagens?
Há dias li o PM escrever no seu Facebook a pedir aos portugueses que não desistam, que acreditem, porque Portugal vai ultrapassar esta crise… mas então, pergunto, se estamos de facto muito mal nas contas do Estado, onde está a Coragem, Sr. PM, para chamar à Justiça os Verdadeiros Responsáveis pela Crise em Portugal, pelo Descalabro? Onde está a Liberdade de sentirmos que somos de facto, todos iguais à luz de uma Sociedade Responsável, Organizada, Socialmente Forte nos princípios de Justiça?... pois, é apenas então mais um episódio da História Comum, os partidos vão-se defendendo mutuamente, como uma Colectividade Associativa, onde se sentem impunes às leis que eles próprios definiram, e onde eles próprios estão protegidos… Pois bem, Sr.PM, para ter a legitimidade de pedir algo aos portugueses, primeiro tem de a construir…tem de ser Corajoso, e lembre-se, na Verdade será sempre a Vida a Julgar as pessoas, e nesse dia, o senhor irá lembrar-se que teve a oportunidade de mostrar às suas 3 filhas que afinal se pode, de facto, ser Livre… Basta ter a Coragem para o Ser!
Termino com um pensamento meu:
Acordar para a Verdadeira Crise, a Humana, é dar o primeiro passo para perceber 3 coisas essenciais:
1- O dinheiro ou qualquer outra coisa material não pode valer mais do que uma Vida Humana, Animal ou Vegetal.
2- As sociedades equilibradas não se constroem com Poder, Ganancia, futilidade e egoísmo. Constroem-se sim com Humanismo, Responsabilidade Individual, Justiça, Coragem, Respeito Individual, cidadania, Liberdade Individual, Trabalho, Cultura, Conhecimento, Direitos e Deveres Individuais, Inteligência, e liderança que assenta na ideia de fazer acreditar e não de mandar.
3- “Este Mundo foi-te oferecido como um maravilhoso jardim. Estás a diminuir o jardim se não apreciares os seus frutos.”
Sejam Felizes e Livres, apenas Sendo-o.