podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
24 de Outubro de 2011

Este é o texto de Luis Vaz de Camões... cantando os Descobrimentos, mas adivinhando no que este País se iria tornar... e em qual gene esta sociedade se iria basear e fundir... é só ler e pensar no que de facto somos... eu sou Português, mas dos que foram e Acreditaram, e tu, que Português és?...

 

Canto IV – Episódio O Velho do Restelo (oitavas: 90 a 104)  

90 


"Qual vai dizendo: —" Ó filho, a quem eu tinha
Só para refrigério, e doce amparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Por que me deixas, mísera e mesquinha?
Por que de mim te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento,
Onde sejas de peixes mantimento!" —


91 

"Qual em cabelo: —"Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Por que is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha, e não é vossa?
Como por um caminho duvidoso
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?" — 


92

"Nestas e outras palavras que diziam
De amor e de piedosa humanidade,
Os velhos e os meninos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
Os montes de mais perto respondiam,
Quase movidos de alta piedade;
A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão com elas se igualavam.


93 

"Nós outros sem a vista alevantarmos
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Do propósito firme começado,
Determinei de assim nos embarcarmos
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa. 


94

(O Velho do Restelo)
"Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:


95

—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!


96

— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!


97 

—"A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?


98

— "Mas ó tu, geração daquele insano,
Cujo pecado e desobediência,
Não somente do reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas inda doutro estado mais que humano
Da quieta e da simples inocência,
Idade d'ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e d'armas te deitou:


99

— "Já que nesta gostosa vaidade
Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome esforço e valentia,
Já que prezas em tanta quantidades
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la quem a dá:


100

— "Não tens junto contigo o Ismaelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do Arábio a lei maldita,
Se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?


101

— "Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe?
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a fama te exalte e te lisonge,
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?


102

— "Ó maldito o primeiro que no mundo
Nas ondas velas pôs em seco lenho,
Dino da eterna pena do profundo,
Se é justa a justa lei, que sigo e tenho!
Nunca juízo algum alto e profundo,
Nem cítara sonora, ou vivo engenho,
Te dê por isso fama nem memória,
Mas contigo se acabe o nome e glória.


103

— "Trouxe o filho de Jápeto do Céu
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu
Em mortes, em desonras (grande engano).
Quanto melhor nos fora, Prometeu,
E quanto para o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos, que a movera!


104

— "Não cometera o moço miserando
O carro alto do pai, nem o ar vazio
O grande Arquiteto co'o filho, dando
Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.
Nenhum cometimento alto e nefando,
Por fogo, ferro, água, calma e frio,
Deixa intentado a humana geração.
Mísera sorte, estranha condição!" — 


publicado por opoderdapalavra às 23:24
16 de Outubro de 2011

Ontem foi o dia dos Indignados.

Antes de mais, gostava de partilhar convosco um conto interessante, leiam-no e de seguida, antes de continuar a ler, façam uma reflexão:

“ Há papagaios que, tal como os seres humanos, são muito contraditórios, como o desta nossa história. Vivia numa jaula há muitos anos e o seu dono era um ancião que se fazia acompanhar pelo bichito. Certo dia, o velho convidou um amigo a ir até à sua casa tomar uma saborosa chávena de chá. O anfitrião e o seu convidado passaram à sala onde, perto da janela, estava a jaula do papagaio. Os dois homens estavam a beber o seu chá, quando o papagaio começou a gritar insistentemente:

- Liberdade! Liberdade! Liberdade!

O animal não cessava de reclamar a sua liberdade. Durante todo o tempo que demorou a visita, o papagaio continuou a repetir, sem trégua, a palavra “liberdade”. Tão persistente era a sua súplica que o convidado começou a sentir-se desgostoso e com o coração despedaçado. Nem conseguiu saborear a chávena de chá. Estava a deixar a casa e, ao longe, continuava a ouvir o animal a gritar: “ Liberdade, liberdade, liberdade.”

Os dias passaram. O convidado não era capaz de tirar da cabeça o papagaio enjaulado a reclamar a sua liberdade. Era preciso fazer alguma coisa. Elaborou um plano: quando o velho saísse, entraria furtivamente na sua casa e libertaria o bicho. No dia seguinte, o convidado postou-se perto da casa do velho, e assim que o viu sair, foi até à casa, abriu a porta com uma gazua e dirigiu-se à sala. Quando o papagaio deu pela sua presença, começou a gritar: “Liberdade, liberdade, liberdade!”

O convidado ficou com o coração apertado. Rapidamente chegou à jaula do papagaio e abriu a portinhola. Então, o papagaio, aterrorizado, retirou-se para o fundo da gaiola e aferrou as suas garras às grades, enquanto continuava a gritar: “Liberdade, liberdade, liberdade!”

In Os Melhores Contos Espirituais do Oriente, de Ramiro Calle.

 

Ontem, relembro e é importante não perdermos esta ideia, muitos dos que protestaram em todo o mundo, erguendo cartazes, gritos de revolta, e palavras de ordem à mudança do sistema politico, ou para uma melhor democracia, abaixo os bancos, o poder económico, o capitalismo, etc… essas pessoas foram, na sua maioria, as mesmas que durante as ultimas décadas, viveram, comeram e retiraram contrapartidas desse mesmo poder, desse mesmo sistema, etc.

A indignação é o início da vontade de mudar, mas essa mesma indignação tem de começar dentro de cada um de nós, com um Auto juízo, uma análise profunda às nossas atitudes, às nossas práticas, às nossas ideias e ideais que defendemos. Não podemos partir para um protesto apenas porque de repente ficamos sem poder de comprar a roupa que gostamos, de ter as férias que desejamos, de ter o carro que sempre quisemos, de ter o emprego que ambicionamos ( e aqui falo mesmo em emprego, não em trabalho, se é que me entendem…), enfim, não é legitimo a ideia de um protesto de indignação, apenas porque deixamos de possuir os luxos de outrora. Não é, acreditem… e sabem porquê?

MORREM EM AFRICA 30.000 CRIANÇAS EM CADA TRÊS MESES… DE FOME!!!!

Sou a favor da indignação, mas porque me sinto indignado com a Crise Humana que hoje assola o nosso mundo, muito antes da crise económica. Não podemos ser egoístas ao ponto de pedir melhores empregos, mais dinheiro, menos impostos, melhores ordenados, quando existe uma percentagem da população mundial que vive, aliás, sobrevive abaixo daquilo que os “indignados” conseguem ter. Temos de ter a consciência que todos estamos no mesmo mundo, todos vivemos debaixo do mesmo tecto, não podemos continuar com esta hipocrisia de pensarmos com o nosso umbigo, a olhar apenas para os nossos problemas, pensar que “O que eu quero é o meu futuro”, ou «próximo que se “lixe”, ele que se desenrasque» … eu pergunto, há dez anos atrás, morriam milhares de pessoas à fome por esse mundo fora, havia crianças abandonadas neste pais, existiam sem-abrigos nas ruas das principais cidades… e onde estavam os indignados? Em suas casas, ou na dos papás, ou mesmo embriagados nas ruas, rindo e saltando em festas, comendo à grande, comprando, adquirindo, desejando… e sem se importarem com a palavra CRISE!...

E agora, só porque lhes bate à porta o infortúnio, vamos juntar-nos e vamo-nos a eles… os mesmos que se alimentaram com o nosso dinheiro, os mesmos que criaram a crise, mas também os mesmos que alimentaram os vícios de uma sociedade doente e faminta de materialismo… e já agora, os mesmos, que TODOS NÓS TEMOS VINDO A ESCOLHER AO LONGO DAS DECADAS…  

Há anos atrás, e respondendo desde já a quem a esta altura dirá qualquer coisa como “ este gajo é um idiota, mais um m*****”, pois, eu contava, que há uns anos atrás, ainda vivíamos longe de uma suposta crise, num Natal qualquer, eu disse aos meus filhos que teriam de dispor de 50 euros cada, dos seus cofres com pouco dinheiro, e iriam comprar uma prenda para oferecer a uma instituição de crianças abandonadas… e foram, e compraram uma playsation para quem nem sabia que isso existia, ou mesmo, ainda com as feridas dos pais que os abandonaram, sei pela directora da instituição, quase choraram ao verem a prenda. Os meus filhos ficaram conhecidos como “Pais Natais”… e todos os anos levam algo a alguém que precisa… e posso-vos dizer que isto não é nada, infelizmente não consegui ainda impedir o facto de alguém morra à fome… por isso, a indignação, a minha, começa dentro de mim, porque eu grito Liberdade, eu quero que esta má distribuição de dinheiro deixe de existir, defendo melhores e verdadeiros políticos e não pessoas que enriquecem com a politica, também quero um melhor futuro para todos, mas antes quero um mundo onde as pessoas sejam isso mesmo, PESSOAS, e não um mero numero de interesse… quero um mundo onde todos possam ter a mesmo oportunidade de vida, onde todos possam, individualmente, serem responsáveis pelo bem e pelo mal que fazem, um mundo onde possamos respeitar o próximo como respeitamo-nos a nós mesmos, um mundo onde quando se grita Liberdade, grita-se porque se sente dentro de si mesmo essa liberdade, e não apenas para dizer que se gritou alguma coisa, mas continua-se preso dentro de uma gaiola da Vaidades…. Quero um Mundo que ultrapasse a ignorância, que abandone a anarquia de pensamentos, ideias e ideais, um Mundo onde as pessoas são vistas individualmente e não escondidas atrás do socialmente correcto ou incorrecto…

Platão defendeu que os políticos e os governantes seriam cegos a conduzir outros cegos, se ficassem pelo plano da representação, sendo o naufrágio do barco estatal muito mais terrível do que o de qualquer outro barco… o interesse que Platão conferiu à ascensão epistemológica não era um interesse meramente académico ou estritamente critico: interessavam-lhe a conduta de vida, o cuidado da alma e o bem do Estado. O homem que não realizasse o verdadeiro bem do homem não vivia nem podia viver uma vida verdadeiramente humana e boa e o político que não conseguia realizar o verdadeiro bem do estado, que não visse a vida politica à luz dos princípios eternos da humanidade, conduziria o seu povo à ruina… Democracia é apenas o poder da escolha… indignação:

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.
-- Che Guevara

POR ISSO SOU UM INDIGNADO… HÁ MUITOS ANOS!...

publicado por opoderdapalavra às 21:36
10 de Outubro de 2011

gosto de pensar que quando falecemos, parte de nós encarna gaivota…

não sei porque penso assim, mas conforta-me saber o gozo do voo, do vento que irrompe pelas asas e as ajuda a planar

gosto de pensar no sol que aquece o bico, enquanto o olhar se perde no longínquo horizonte

adoro pensar que no final do dia se reúnem, com toda a comunidade e ali se deixam ficar, como família que abdica da tv para falarem e partilharem pensamentos

adoro saber que voam em grupo, procurando ajudarem-se umas às outras e não se entregarem à promiscua prostituição mental do egoísmo social

acho que ser gaivota é ser-se livre, não pagar impostos, não ter pessoas falsos políticos, não necessitar de acreditar que aquele que fala muito bem é apenas um falso líder

acho que este espirito que inunda o meu espirito deste desejo de pensar em ser gaivota pode ser uma certa saturação de pensar que somos livres, mas afinal não o somos…

passamos uma vida à procura de um sonho, e ainda esperamos que alguém, um dia, nos diga qual é esse sonho…bem as gaivotas sabem qual é o delas, o de voarem e viverem…

passamos horas a reflectir sobre o autoconhecimento, mas depois de passarmos anos a preocupar-nos em sermos melhor do que a pessoa do lado…

vivemos obcecados com o que ganhamos ou perdemos, mas nem notamos que o que ganhamos foi a oportunidade e o que perdemos foi a não ter aproveitado….

pelo menos penso que as gaivotas sabem que ser-se livre é acima de tudo respeitar-se a si mesmo, aceitar-se que se é, viver como se é… mas de facto o homem nunca conseguirá ser assim, pois quando é que o homem, ser pensante, poderá descer tão baixo e equiparar-se a todo o outro mundo animal?...

só quando for realmente livre e ai sim, eleva-se até ao resto do Mundo Animal e Natural…

já agora ( parafraseando), vale a pena pensar nisto?...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por opoderdapalavra às 23:39
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Grata, sorrisos :o)
Quente.Arrebatador.
Leitura muito agradável :)Convido a leitura do meu...
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