podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
20 de Abril de 2010

 

Imaginem uma carta. Imaginem que essa carta é escrita por quem todos os dias pensamos ser apenas um animal, espécie que pensamos não poder comunicar connosco. Os animais, como o gato que escreve esta carta, muitas vezes são incompreendidos, apenas são quase objectos de decoração, são usados para demonstrar o ser dominante que o Homem deseja ser... mas existem aqueles animais que são como filhos, como amigos, como companheiros, respeitados e tratados como iguais, animais todos que somos. Leiam esta carta, que pode apenas ser o pensamento daquele que tem perto de vós, e tratem-no com amor, carinho, e lembrem-se de uma coisa, com igualdade, porque poderão pensar que ele nunca vos julga, mas enganam-se, porque eles são inteligentes como vós.

 

 

"Cara Dona,

Estou aqui, deitado na minha cama, com o calor do meu pelo, pensando em ti. Passaram horas que partiste, foste embora, disseste-me um “até logo” que me deixou a ansiedade de voltar a sentir no meu pelo, os teus dedos, como uma varinha mágica que me transporta para um paraíso qualquer. Sei que sou um simples gato, nada mais, um simples animal de estimação que apenas passa os seus dias dividido entre comer, dormir e brincar um pouco. Não deve ser fácil para ti, chegares depois dessas horas em que o teu corpo e mente estão aprisionados a uma dependência financeira, apenas para pagares esta casinha onde vivemos, a tua comida, a minha comida, o calor, e as tuas pequenas extravagâncias. E depois disso tudo, ainda consegues arranjar um sorriso rasgado para chamares o meu nome. E abraças-me como uma mãe abraça o seu filho. Dás-me todos os mimos que tens, o amor que jorra dentro de ti. Ouves aquela musica, que conforta os teus pensamentos, acendes as velas onde por vezes queimo o meu rabinho querido, preparas o nosso jantar, recebes por vezes a visita de alguém, como tu, humano, que te dá uns beijos, e eu morro de ciúmes, mas compreendo que tens de ter os teus amores iguais, atendes o telefone, ou respondes a umas mensagens de alguém muito chato, mas que por vezes te faz rir ao inicio da noite, e até te põe a pensar. Mas no fim da noite, aqueles minutos que ainda consegues estar acordada, são para mim. E como é bom, sentir o teu toque, eu a rosnar, a deliciar-me com os teus mimos. Sabes, eu sou um anjo, sim, daqueles que tu adoras, sou apenas um anjo que tenho a missão de te proteger. E sei que anda por ai outro anjo, alguém que penso ser como tu, humana, e que veio para proteger-te, para te dar muito carinho, amor e muita felicidade. Tens é de estar atenta, ele vai aparecer, se calhar até já o fez, e tu tens de estar desperta, senão ele passa e tu não o vais ver. Ele é dos bons anjos, daqueles que só trazem a felicidade agarrada. Por falar em agarrada, não gostavas muito daquele jarro que acabei de partir, aquele que está no meio do corredor... se queres saber, eu sempre o detestei, era meio, sei lá... tu sabes. É que tive de me levantar para ir à procura de um pouco de comida.

Durante estes anos, sabes que tenho estado sempre aqui, onde tu precisas, porque como te dizia, sou o teu anjo, aquele que compreende os teus maus dias, que aceita o teu resmungo, que se resigna à tua cara desfeita em lágrimas, limpando-as apenas e enroscando-me no teu leito. Também sou eu quem sempre está contigo quando ris, quando brilhas na felicidade, no encanto de um simples sorriso. Sou eu quem fica em casa, quando vais de férias, mas sem ficar chateado, porque afinal bem precisas delas, fartaste de trabalhar, porque também sei que quando voltas, vens cheia de saudades minhas e ficamos nos mimos durante horas. Eu, eu só quero te ver feliz, junto de mim, não interessando quem também está a teu lado, podem ser milhões de pessoas como tu, mas enquanto tu me amares, eu também te vou amar, e o amor é isso mesmo, sabermos que podemos sempre contar um com outro, mesmo que esse outro não seja igual a nós, afinal tu não és assim tão parecida comigo, chamam-te gata, mas nem percebo porquê, porque desculpa que te diga, mas de gata não tens nada...enfim, vós humanos sois estranhos.

Mas sabes, eu amo-te. Sei que sou um gato, mas sou aquele gato que adora, não o seu dono porque não sou propriedade de ninguém, mas sim um gato companheiro. Agora vou dormir. Não é só o Garfield que tem vontade de dormir, eu também. Já agora, a gata que me arranjaste como companhia, onde é que consigo lhe desligar as pilhas, irra tem cá uma energia, mas é boa moça.

Faz-me um favor, sê feliz, do teu

Marcos Miucha."

 

"Todos somos irmãos por natureza, estranhos por educação." Confucio.

 

publicado por opoderdapalavra às 01:12
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