podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
23 de Dezembro de 2009

 

Estamos no Natal, altura do ano onde as histórias regressam aos tempos dos inícios do tempo, mesmo que moderno, é o tempo que marca o compasso da nossa era. Jesus, Maria, José, um burrinho enfadonho e uma vaquinha tresmalhada. Esta altura somos jogados num rodopio louco de compras, consumismo barato e verdadeiramente absurdo no campo da idiotice humana… porque damos pelo sentido de dar algo a alguém, sem o interesse do sentindo sentimento de se querer oferecer algo a alguém muito querido. Por isso este ano, quis premiar os meus leitores com um conto, exclusivo e inédito, de Natal. Não vou entrar em nomes, nem títulos, esse serão vocês que o imaginaram e poderão depois partilhá-lo comigo e com todos. Convido-vos a fecharem os olhos antes de começarem a ler e fazerem um exercício de imaginação. Sintam uma mão que vos pega, que vos abraça e vos leva numa viagem. Até onde? Agora sim, podem começar a ler. E boa viagem.
 
 Existem terras onde o sol nasce sempre pela tarde, vindo dos fundos do horizonte, onde a luz se confunde com a escuridão, fronteira de ninguém. Nestas terras, os seres que nelas habitam, acordam no final do dia, dormindo quando as horas da manhã rebatiam nos sinos das igrejas, locais de culto dos que não dormem. Estes, os que conseguem manter os olhos sempre na abertura das horas, vivem enclausurados nas masmorras destes templos. Adoram estátuas, feitas de uma pedra quase sagrada quanto deveras rara, pois apenas se retira do ventre do chão, em terras mais a sul, onde ai o sol nasce sempre pela manhã, mas adormece logo que as meias badaladas do meio do dia estalam. Mas voltemos às terras do norte, onde nas horas da tarde o sol quer surgir num horizonte fosco e difuso de imagens, uma capa com uma foice surge caminhando no contorno das árvores. Vem cabisbaixo, com o negro a pintar as suas passadas. Traz o cheiro nauseabundo da morte. Traz uma névoa que esconde o pequeno brilho do sol. Este tenta rasgar a negrume, mas é vedado pela força de um ser que transforma todas as flores em pequenos e secos caules nus de vida, as árvores murcham num Outono desesperante e os pássaros deixam de cantar nos céus para se esconderem numa qualquer toca. Ele chega a uma das aldeias do norte, crispado e com a vontade de levar consigo uma alma que clama pela sua vinda. Olha em volta, arrepiando os olhares que ao acordarem, se deparam com tal imagem. Ele entra de rompante numa das poucas casas da aldeia. Tem um telhado de palha, sem porta, nem janelas, apenas um muro que forma um quadrado, feito de uma lama e alguma palha. Lá dentro um animal de nome burro e um outro de nome vaca aconchegam uma pequena criança, que dorme com uma respiração frágil, tem uma cor pálida, adoentada na pele que apenas sustem meia dúzia de ossos. Ele olha-o. Por segundos fica estático em frente ao rapaz. Alguém entra nas suas costas.
- Porque está aqui?
- Venho buscá-lo. Chegou o seu tempo.
- Mas ele tem de ir já? Eu sei que está doente, cheio de maleitas feitas pelos homens, mas gostávamos que ele ficasse pelo menos mais um Natal. Não pode ser?
- Não – a sua voz foi estridente que acordou o menino.
Ele olhou-o com um certo espanto, mas logo que o reconheceu, não hesitou a sorrir. Ficou de certa forma feliz por o encontrar ali. Parecia já aguardar a sua chegada.
- Olá. Que bom ver-te. Pensei que não viesses.
A pessoa que estava nas costas da Morte (sim, esse é o nome que dão ao ser estanho de capa escura e foice na mão), soltou as palavras com o tormento no coração.
- Esperavas por ele? Mas queres mesmo ir?
- Não, mas tenho tantas dores, tenho tanta vontade em ficar, mas queria ficar sem dores, sem estar doente. Gostava de poder ficar para brincar com os outros meninos, correr pelos prados e gritar pelos cantos das montanhas. Gostava de poder acordar sem pensar que vou ter de sofrer tanto. Apenas quero descansar, estou tão cansado. Os homens tem-me feito tão mal. Estou cansado. Prefiro deixar de existir, talvez eles possam assim ficar mais descansados.
- Mas assim deixa de haver Natal. Sabes que tu representas muito para esta quadra. E sabes que ainda existem muitas pessoas que sabem a razão de tu existires, e por isso vivem verdadeiramente o Natal. Dá mais uma oportunidade, pedimos-te.
- Mais uma oportunidade? - Soltou a criança, que ficou com a ira nos olhos, o ódio na boca.- Sabes quantas oportunidades já eu dei? Milhares. Ao longo deste tempo em que a minha imagem existe, fui sempre trocado pela presunção dos homens, que se dizem bons e capazes de fazer algo de útil para as suas felicidades e não, fazem precisamente o contrário, trocam todos os sentimentos pelo irreal, pela insensibilidade.
A Morte aproximou-se dele. Colocou-lhe a mão sobre o ombro.
- Queres vir dar uma volta? Apanhar um pouco de fresco. Quero mostrar-te uma coisa. – Ficaram ambos estranhos a olharem-na, pois parecia mais mole na voz, e mais dócil na atitude. A Morte ser dócil?
- Que me queres mostrar? O caminho?
- Não, já vais ver.
E levou-o para fora das paredes. Lá fora, rodou no horizonte a foice, que limpou a escuridão e deixou chegar o sol, com os seus raios cheios de um calor aconchegante. Este calor tocou a face da criança. Depois a mesma foice voltou a transformar os campos de um verde arrebatador. O cheiro que pairava no ar era fresco e com a abundância das fragrâncias das flores que abriam-se na direcção do sol. Os pássaros voavam pelo céu, sarapintando-o com as diversas cantorias e espalhando a alegria num ar que rápido contagiou os olhos e o corpo da criança. De seguida a Morte pegou-lhe na mão e levou-o. Voaram. As pessoas ficaram atormentadas, com o medo estampado nas faces, pensando que a Morte o teria levado para sempre.
- Onde me levas?
- Já vais ver.
Voaram dias e noites, vendo os espelhos da água dos oceanos, as estrelas que sossegadas dormitavam no esplendor do céu, a brisa que corria pelos contornos das terras, os campos, as cidades, as luzes que se perdiam na extensa linha de civilização. Até que chegaram a um sítio frio, cheio de gelo, onde o verde ou outra cor qualquer é trocada pelo frio do branco. O manto que cobre toda a terra perde-se na imensa planície de gelo. A respiração é trocada por um bafo de ar.
- O que fazemos aqui?
- Esperamos.
- Esperamos? Por quem?
- Por ele.
E apontou para uma sombra que se aproximava. Caminhava de forma sonâmbula, arrastando os pés. Tinha a cabeça coberta por uma pele, e o corpo com uma enorme coberta de pêlo. Era pequeno. Tinha nas mãos uma estaca, com uma ponte afiada. Não se conseguia ver-se os olhos. Mas ao sentir a presença de alguém, ergueu o olhar e fitou a criança e a Morte com o espanto. A boca estava rasgada pelo frio, a pele enrugada pelo gelo os olhos adormecidos pela tristeza. As lágrimas estavam congeladas a meio das faces. Magro. Era também uma criança.
- Volutei, apresento-te Jesus.
- Jesus? – Perguntou o pequeno habitante do gelo.
- Volutei? – Soltou Jesus, nome do pequeno doente.
- Jesus, este é Volutei. Ele é esquimó, e vive nestas terras geladas desde que se conhece. Os seus pais, eu já os vim buscar faz muito tempo, e ele ficou sozinho. Foi criado por outros habitantes. E por mim. Desde o dia em que o seu pai acompanhou-me que as suas lágrimas estão congeladas. Foi num dia de Natal. Estavam todos em casa. O seu pai perguntou-lhe o que ele queria para o Natal, como presente, e ele respondeu-lhe que te queria conhecer, a ti, o menino Jesus. O seu pai sorriu e disse-lhe que havia de o conhecer no dia em que o frio seria transformado no calor do amor, dia em que a dor de ter perdido a mãe se transformasse na alegria de experimentar algo maravilhoso na sua vida. Nesse mesmo dia, uma tempestade trouxe-me até aqui, para vir buscar o seu pai, que morreu congelado enquanto veio à rua buscar lenha e caiu, batendo com a cabeça numa rocha. Desde esse dia que Volutei deixou de acreditar no Natal e riscou-o do seu pensamento. Neste dia, ele apenas caminha vagueando pelos confins desta terra. Não quer ser feliz.
- Mas porque estás a começar de sorrir, Volutei?
- Porque ele nunca viu uma criança, e porque és quem és.
- Jesus? És mesmo ele?
- Sim, adoentado, mas sim.
Volutei tocou-lhe na cara. As suas mãos doíam com o sofrer de uma gélida existência. Tinha os olhos ensanguentados de lágrimas, que agora queriam deixar os olhos e banharem o rosto.
- Pai….
- Pai?
- Sim, o meu pai tinha razão. Ele trouxe-me até ti. Foi ele que me disse que eu ia-te conhecer no dia em que eu iria viver algo de extraordinário, e estou a viver. Estou a conhecer-te…
- Sim, estás a conhecer Jesus, a razão do Natal…
- Não, não é isso… estou a conhecer uma criança, alguém como eu.
A Morte ficou espantada. O pequeno Volutei não queria conhecer Jesus por aquilo que ele representava, mas sim, por ser a única criança que ele conhecia existir para além de si. Na sua aldeia, não nasciam crianças desde o dia em que a sua mãe o pariu. Todas as outras pessoas eram já velhas e não tinham filhos por perto, tinham partido e abandonado as suas raízes faziam muitas luas e muitos sois. Agora o pequeno Volutei sabia que havia mais uma criança no mundo, logo o que o pai lhe havia dito (e que compreendia a sua vontade de conhecer Jesus) estava a acontecer… conhecer uma criança e a criança que sempre imaginou.
- Mas eu estou doente, estou a morrer. Os homens trocaram-me pelo materialismo, já não querem saber dos sorrisos das crianças, dos abraços dos amigos, do amor do próximo, da boa vontade… apenas querem o consumir do egoísmo, a força da malvadez, a solidão dos pensamentos e dos sentimentos… eu estou aqui, mas estou a morrer…
Mas o Volutei abraçou-o. Naquele momento o arrepio do corpo de Jesus foi de tal forma, que ele mesmo soltou as lágrimas, e os braços envolveram Volutei, e com a força de um momento, deixaram-se estar no conforto daquele calor que espantou a Morte, que ao partir sorria, alegre e pintada por uma cor celeste. Foi-se num toque de quase magia.
Conta-se nas terras do norte, que o gelo derreteu nos corações dos mortais. Conta-se que Jesus e Volutei brincaram durante a eternidade dos dias, dias que deixaram de ser pequenos e o sol acordava pela manhã e trazia a noite apenas pelo final da tarde. Conta-se que o sorriso deles é tão grande que todas as pessoas o podem sentir na noite de cada Natal, bastam deixarem o material e abraçarem alguém que amam. Dizem que a Morte sempre que chega o Natal descansa para os que cuidam dos dias de Amor e pensam nos outros, apenas abraçando os que teimam pensar que estão no mundo com a presunção do vazio e da futilidade. Conta-se que hoje Volutei é a criança mais feliz de todas, porque o Natal para ele passou a ser a data em que conheceu outra criança, outro ser com quem podia partilhar o momento de simplesmente brincar, qual momento tão intenso quanto belo. E que Jesus, ficou melhor, pois descobriu que enquanto existir uma pessoa que descobre o verdadeiro significado da existência da palavra Natal, sabe que vale a pena ele próprio também existir.
Natal – Não é apenas uma data festiva, é um modo de viver o Amor.
 
publicado por opoderdapalavra às 12:49
10 de Dezembro de 2009


Esta semana tivemos o prazer, ou não, de ver mais um capitulo da revista à portuguesa

 

"Politica em Portugal. Foi demasiado sofrido o debate, teoricamente, sobre a saúde em

 

Portugal. Mas até foi sobre a saúde em Portugal que eles falavam, porque a doença deste

 

pais começa precisamente neles, os politicos. Eles é que, na sua maioria, pois ainda

 

existem honestos e verdadeiros, são o cancro desta nação. Penso por vezes como é que

 

nós "fabricamos" este tipo de gentinha. Miudinha, sem escrúpulos, com falta de ideias

 

( bem ai, é melhor nem falar), sem respeito porque quem os elegeu, sem puridos

 

do circo mediático da parvoiçe, enfim, estaria aqui muitas horas a adjectivar quem

 

não representa a história e toda a riqueza deste nosso Portugal. Este episódio é

 

apenas mais um, mas de quantos mais? Fica a pergunta... alguém

 

sabe a resposta?

 

 

publicado por opoderdapalavra às 21:50
02 de Dezembro de 2009

Olho que cobre os cantos, horizonte onde te deitas, ó cidade que não dorme

És o inicio e o fim, és aquela que ostenta a riqueza, mas enconbriu a pobreza

És digna do teu nome, poderosa e majestosa, qual sentido de invocar a altivez.

 

Tens no teu céu a virtude de cobrir o tecto de uma casa sem muros

Paredes desfeitas pelas cores dos povos que te abraçam

Jorram-te flores de admiração, a teus pés suplicam-te mais um abrigo

 

 

Tens a arte de um tal Bernini, qual mestre de um tal ilusionismo rebelde e delicioso

Mas vive em ti o génio de um Miguel Angelo e outros mais

Perfeitos homens nos sonhos de um pincel ou na ponta do perfil de uma pedra

 

 

Tens as estátua esculpidas no teu corpo, santos que antes viveram em ti

Simples corpos que dedicaram o seu intimo à causa dos outros

Mas homens que impuseram uma lei, uma regra de um tal Deus inventado.

 

 

Tens a fonte dos desejos, local de romarias amorosas, frutos que gritam pela carne das paixões

Tens as moedas do regresso, água que lava a vontade de voltar a penetrar o teu ventre

 

 

Tens a obra. Tens a engenharia. Tens o produto final de um Império.

Tens a graça de uma cidade Estado, civilização erguida no querer das conquistas.

 

 

Mas tens o poeta, o estranho que se senta nos fundos do teu corpo

e escreve nas páginas dos dias, o poema que desvenda o teu segredo,

nome que pinta o teu significado, frase que distingue a tua existência...

esse poeta canta-te na madrugada dos pensamentos, onde tudo é belo

onde tudo é simplesmente ROMAnce com a tua Vida.

 

publicado por opoderdapalavra às 20:56
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Grata, sorrisos :o)
Quente.Arrebatador.
Leitura muito agradável :)Convido a leitura do meu...
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