O motor parou. Como pode parar um engenho que tem sido sempre lavado com a água do poço. A pergunta invadia o pensamento de Carmina, enquanto Manel Alberto tentava descortinar o problema em questão, mas sem perceber de nada para o que olhava. O problema era tentar chegar a Lisboa, como bem se lembram, para o casamento do filho. Carmina olhava em volta e apenas conseguia ver uma placa dizendo Freixo da Espada à Cinta. Seria longe de Lisboa, perguntava ao homem, que estava cada vez mais intrigado com a quantidade de peças que compunham o dito motor. Não faço a mínima idéia, respondia-lhe o macho. Vamos até lá a pé, homem de Deus, pode ser que nos consigam arranjar essa coisa. Manel concordou. Foram até um edifício que dizia na entrada “ Bombeiros”. Pediram uma informação sobre se lhes podiam ajudar a chegar a Lisboa. Estava apenas um homem, que sentado numa cadeira, uma cerveja fresquinha na mão esquerda, um naco de pão com chouriço caseiro na direita, olhava-os com um ar pasmado. De onde vieram voçemessês? Viemos lá da nossa quinta e queremos ir para essa terra chamada Lisboa, sabe é que o nosso filho vai-se a casar e nós queremos ir até lá. Respondia-lhe Manel, afinal a mulher não pode falar com estranhos, não está autorizada a tal. Lisboa? O bombeiro coçava a cabeça, pensando que raio de pergunta esta que me vieram fazer agora mesmo que estava saboreando este bocadinho de comida. Esta gente... mas eu estou aqui sozinho sabem, e não posso sair daqui... e coçava a cabeça, porque senão quem vai-me fechar o quartel? Ninguém. De repente um toque estrondoso soa nos fundos, num pequeno gabinete. É o telefone. O bombeiro está agora numa azafama sem precedentes. Uma pergunta e um telefone a tocar, ao mesmo tempo. Que coisa, e logo agora que a cerveja fresquinha estava mesmo a saber bem, assim como o pão com o chouriço que o Ti Zé tinha trazido faz umas horas. Mas o telefone não parava e teve de sair em pressa para junto dele. Estou sim? Sim é do quartel dos bombeiros de Freixo da Espada à Cinta. Sim. Sim. Sim. Sim. Tanto sim. Até parecia uma gravação riscada. Sim, mas porque não mandam uma ambulância de outro lado? É que eu estou aqui sozinho. Sim, estou sozinho, quer dizer, eu e mais um casal que veio perguntar-me onde é Lisboa. Pois, mas estou sozinho. Ele está a morrer? Pois, não pode-lhe perguntar se consegue agüentar até chegar outra ambulância?...depois de uns minutos de conversa, o bombeiro vê-se obrigado a sair numa ambulância. Mas não podia deixar ali a Carmina e o Manel Alberto. Então decidiu leva-los com ele. Que viagem. Curva e mais curva. E nenhuma resposta sobre Lisboa. Chegaram a um local onde estava um carro todo destruído, um carro de policia e muitos populares de braços no ar. Ah, e outro deitado no chão, tinha uma espécie de lençol branco por cima dele. Então o que se passa, perguntou logo o bombeiro, e um dos policias respondeu, então não vê que está ali o homem morto? Pois, coitado, mas chamaram-me para quê? Então para leva-lo. Mas tem de esperar que venha o carro do INEM. Para se ele está morto? Perguntou naturalmente o bombeiro. Pois, são as normas, o policia. E esperaram. O Manel, instigado pela mulher foi perguntar ao bombeiro se já podiam ir embora. Claro, desculpem lá qualquer coisa. Podem ir embora. E Lisboa? O bombeiro disse-lhes finalmente que também não sabia para onde era. Então perguntaram a um dos policias. Este depois de lhes perguntar porque é que queriam saber de Lisboa, e eu sei que vocês já sabem, ele decidiu dar-lhes uma boleia até à próxima paragem de autocarro, que os levaria até Vila Real e dai apanhavam o expresso até Lisboa. Manel Alberto e Carmina gostaram dos nomes que escutaram e pensaram que Lisboa estaria perto. Mas primeiro tinham de esperar pelo INEM. Afinal o homem morto precisava de uma reanimação...