Existem livros que lemos e deixamo-nos levar pela melodia dos pensamentos, pela doce sabor de uma história bem narrada. Passamos momentos em que a nossa mente se perde no tempo e este deixa-nos repousar no encanto das letras. Este livro é um deles. São momentos intensos, alguns que nos deixam a roçar a lágrima, outros esboçam-nos um sorriso, e aqueles em que paramos para reflectir mais um pouco sobre a importância de tudo isto a que chamamos de vida. São narrações de uma vida dedicada à medicina, à procura talvez de um EU mais profundo. Nuno Lobo Antunes teve o condão de nos guiar pela sua memória com um sentimento de nostalgia, com o olhar amargurado pelos momentos mais calejados pela dor ( lembro-me do funeral da menina que adorava golfinhos), com o toque de um qual mago que tenta o truque de ilusionismo ( a dor passou e agora apenas o sorriso fica). Como escreve o autor:
"Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta,como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba. O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio."
Leiam, vão ver que não doi.