podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
28 de Outubro de 2008

 Hoje falamos muito de “crash” económico. Mas eu gostava de falar de um mais preocupante: o “ crash” cultural, de mentalidades.

O homem sofreu ao longo dos séculos várias transformações culturais, provenientes de um a enorme sede de progresso e evolução. Foram várias as etapas em que provocou enormes transformações na fisionomia social e mesmo material. Nas sociedades de hoje encontram-se muitas dos traços dessas mudanças. A industria, com a revolução industrial inglesa; a religião, com o predominante crescimento de religiões quer monotaistas quer politaistas; a escrita, com o desenvolvimento e a universalidade de várias línguas; os hábitos, aqui a expansão ultramarina teve um peso fundamental, pois acabou por criar costumes e raízes em povos que estão separados entre si quase meio globo;  as raças, outra vez a expansão ultramarina que acabou por determinar uma mistura abrupta das raças e logo uma mistura de costumes, filosofias; e a para terminar, a mais recente de todas, a globalização, o tornar o mundo num só.

Mas estas alterações tiveram feridas, bem abertas e que o homem nunca quis ter e pretensão de as fechar ou mesmo sarar. E elas foram aumentando e aumentando até chegarmos ao ponto onde estamos. E falo de:

  • A industria foi criando um movimento de ambição desmesurado e desordenado, levando a um parque industrial extremamente vasto, aliás, demasiado mesmo, destruindo quer o sector primário, a agricultura, sim, pois se no inicio os agricultores tiveram acesso a meios que industrialmente eram importantes, agora a industria cria o que era criado pela agricultura, exemplo, as produções de fruta que são neste momento feitas e grandes estufas, apenas com a preocupação de produzir imenso e não com qualidade. Depois, e talvez a ferida mais grave da industria, a poluição. Vivemos uma época de destruição. O homem não consegue parar, está dominado pelo dito progresso, que não á mais do que uma desculpa para poder se auto-destruir. A industria polui milhares de hectares de céu, sim , do azul do céu, destruindo uma protecção fundamental para o planeta, a tão famosa camada de ozono. E depois destrói também os pulmões, sim, que a terra se calhar até tem verde a mais...
  • A religião tem sido apenas uma forma de o homem criar fissuras enormes em termos sociais. Fala-se muito de descriminação em termos de raças, mas para mim a maior das descriminações é religiosa. Senão vejamos, os extremistas religiosos apregoam um tal fundamento de salvação humana se seguir aquela ou outra corrente religiosa, e ao mesmo tempo ataca outras formas de pensar religiosos. Existe sempre a famosa frase “ Se pecares vais para o inferno”, porquê alguém alguma vez morreu e voltou para poder afirmar isto? Mas também temos a descriminação do sexo, se é homem tem direitos superiores a ser mulher. Temos desníveis substanciais que se tem acentuado ao longo dos séculos. E isto sem falar nas diversas guerras que se fizeram em nome de um tal Deus. Mas também não deixo de referir as igrejas emergente, IURD, etc., que aproveitam-se da fragilidade humana para criar riquezas absolutamente extraordinárias, logo os valores propriamente ditos religiosos, nenhuma crença, igreja, ou corrente os pratica, pois todas são dotadas de grandes interesses.
  • Falo agora talvez das maiores doenças deste século: a política. Sim, para mim a política é o maior vírus que surgiu no século XX. Na antiga Grécia a democracia era vista como uma forma de respeito pelo próximo, pelas suas idéias, ideologias, filosofias. Mas foi tudo inventado no chamado ócio humano. Com o correu dos tempos, o homem foi vendo na democracia um instrumento quase perfeito e “ legal” de servir em primeiro os seus próprios interesses e depois os interesses da família, depois dos amigos, depois de alguns pedidos extra e no fim dos eleitores desconhecidos que o elegeram. Assim é a democracia de hoje. A política de hoje não a verdadeira, pois o político tem de ser o que abraça as suas idéias de forma coerente, séria e sem promiscuidades de interesses. Tem de ser alguém que, independentemente de sondagens, tenha a coragem de traçar um rumo e nunca se desviar dele, mesmo que isso lhe custe a derrota. Mas será que é este o político de hoje?
  • A cultura. O que é hoje o mais importante na vida das pessoas em geral? A vida das outras pessoas em geral! Qual é o sentimento mais importante nas sociedades hoje em dia? O egoísmo, senão ainda alguém nos tira o que conquistamos. Dar? Isso é de desconfiar, pois ninguém dá nada a ninguém. O que se lê hoje em dia? As revistas que expõem falsos sonhos de Cinderela, e livros vazios, apenas com um amontoado de palavras que desmontam a vida intima de alguém. As pessoas fazem reflexões profundas sobre si mesmas? Não, mas afinal em que é poça é que vives?
  • Os valores. A ambição desmedida é uma característica presente no homem de hoje. Querer mais do que tem é quase uma obrigação social. Não ficar atrás de ninguém é um dever humano. Vejamos os bancos, os seguros, que afinal se pensava serem quase auto-indistrutiveis e quando se desmonta o puzzle vê-se que afinal eles gastaram mais do que tinham. O homem quer poder e precisa dele para viver, se alimentar, para conseguir demonstrar que está vivo. Mas o homem esquece-se que o maior dos poderes é conseguir controlar-se a si próprio e conseguir crescer na vida como um ser inteligente e sábio, onde o tempo se torna um amigo e não o maior dos inimigos quase. O homem sempre foi pensando que tinha de dominar, afinal tem sido sempre dominado: pela sua própria ganância. Este é o valor dos dias de hoje: o ter para poder dominar.

 

É esta a crise mais grave que vivemos. A nossa sociedade está muito doente. E não falo de um ponto de vista profético, falo de uma visão realista. Cura? Bem, como disse atrás, temos de parar para refletirmos, pensar nos erros que cometemos, curar as feridas e depois evoluirmos sem medo para sermos sempre melhores como seres humanos, na base da igualdade, do equilíbrio. Utópico? Porquê? Penso que utópico é pensar que esta via que temos vindo a viver é a mais lógica, isso sim é utópico.

Vamos esperar para ver, afinal a crise econômica está a abafar a crise de mentalidades.

publicado por opoderdapalavra às 23:46
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