podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
30 de Setembro de 2008

 

 

 

Olhem a estrada. Olhem o caminho. Imaginem. Pensem. Reflictam. Não deixem o momento. Apenas este momento, em que tudo pode ser diferente. Imaginem a estrada, funda, sem fim, continua pelo tempo, pelo espaço, pelo horizonte que nunca termina. Essa é a vossa estrada. Não a percam.

 

 

caminho com os pés num chão escuro, bruto de morte, sem espelho de vida

sinto a alma sofrida pelas bermas, o espirito vadio pelas frestas do asfalto

a boca perde-se no silencio das palavras, o ouvido seca na ausência som

tenho os pensamentos perdidos nos fundos desta estrada, este caminho perdido

os meus olhos apenas avistam um horizonte ilusório, miragem pura dessincronizada

até mim vem um corvo vagabundo. olha-me. fisga-me de soslaio. 

quem tu és, caminhante? pergunta rota de sentido.

sou um morto vivo nesta estrada. respondo pronto.

sorrio por seres morto, fico triste por estares vivo. não prestas para comida. para onde vais?

vou para onde puder descansar deste tempo que me mata.

o tempo que te mata? és tão ignorante, homem, não é o tempo que te mata.

não? então diz-me, passaro, vida viajante, o que me mata?

és tu mesmo. perdido nesse teu egoismo de pensares que algo que existe com ou sem a tua existencia, pode dar importancia à tua existencia. não vales um pouco do que vale o tempo.

raios sejas, estupido passaro, és a mais besta das bestas.

não sou, tu é que és. tu é que teimas em quereres beber da mesma fonte, a da ignorancia, por isso continuas seco, com sede de respostas, quando a água que necessitas sempre esteve na entrada da tua boca.

então porque ela não entrou?

porque tens estado sempre distraido com a tua ganancia, a avareza da tua prepotência, a estupidez do poder do teu vazio.

chamas-me de nomes, como se fosse um ignorante?

e sempre o foste. nunca o admitiste, mas sempre o foste e o serás até ao momento em que souberes que és apenas um pouco do ventre que te pariu e que te abraça todos os dias.

foi-se num espanto, e um pranto tomou a minha alma. sofro de desgosto. não tenho forças.

deixo-me estar nesta estrada. cuspo o sangue na terra e enterro as minas entranhas no profundo buraco do meu ser, esta minha exitencia louca que velo aqui, onde jaz esta minha essencia, puramente desperdicio de vida. assim sou eu, o homem que pensou um dia ser superior à sua própria condição. 

nesta estrada, adormeço. neste caminho fica a minha reflexão. que o tempo me leve onde ele quiser.

publicado por opoderdapalavra às 22:21
21 de Setembro de 2008

 

 

 

Estou no alto da montanha. Daqui posso olhar em volta. Ver tudo o que compõem o mundo, a vida em si. Vejo as pessoas, os animais, as plantas, os rios, mares, lagos, as estradas, as aves, os peixes. Vejo as nuvens, o céu. Estou às portas deste céu que vai-me receber. Mas num ultimo instante olho mais uma vez para trás, para o passado. Vejo que o tempo foi apenas um percurso que rapidamente se transformou, dia apos dia, sem deixar de esperar por nós. Ele não esperou quando eu preocupava-me com um assunto de trabalho, ele não esperou enquanto eu chorava uma paixão perdida, ele não esperou quando eu revoltava-me com a injustiça dos outros, ele não esperou enquanto eu fazia as contas da vida, ele não esperou quando eu estava triste. Ele também não esperou quando eu gozava aquelas férias fantásticas, não esperou quando eu casava com a mulher dos meus sonhos, ele não esperou enquanto eu celebrava aquela vitória, não esperou quando eu estava tão feliz de ser promovido, ele não esperou enquanto eu divertia-me com amigos durante noites e noites, não esperou quando o meu filho nasceu, não esperou quando eu amava, enquanto eu desfrutava do amor dos outros. Mas o tempo foi passando. E não esperou quando eu odiava, quando eu queria vinganças e procurava atacar aqueles que fizeram-me mal. Mas ele ainda foi mais cruel, pois não esperou quando as pessoas que gostavam de mim procuravam-me, amavam-me. Afinal a maior das crueldades do tempo foi os segundos que ele levou para fazer-me parar, em que o meu relógio deixou de bater. Foi tudo tão rápido. Afinal agora penso o tempo que perdi. O tempo que ficou para trás e já não posso faze-lo voltar. Afinal se eu tivesse deixado de perder tempo com sentimentos de ódio, com momentos em que procurava vingar-me ou fazer mal, episódios em que procurei prolongar zangas, chatices, se eu tivesse deixado de perder tempo com aqueles dias de stress que fizeram-me desviar dos que chamavam por mim, se eu tivesse tido esse cuidado, hoje veria que tinha tido mais tempo. Tanto tempo que perdi na vida que levei. Temos tantas coisas que desviam a nossa atenção que perdi tempo em não ver os sorrisos dos que amei, de ver os carinhos que podia ter recebido, de entender as opiniões dos outros, perdi tempo em não desfrutar aquele nascer do sol, de sentir a frescura daquele vento, de calmamente ficar a observar o vôo daquele pássaro, que livremente soltava-se na imensidão dos céus. Perdi tantas coisas. Pensei ao longo da minha vida que poderia sempre vive-la ao máximo e estive sempre convencido disso. Mas, agora, vejo que afinal não vivi quase nada. Pois são tantas as coisas, os momentos que acontecem à nossa volta, que nós distraídos com a futilidade das coisas, perdemos as essência da vida. Sim, a vida é de facto uma essência, a futilidade é apenas um artefato do vazio da nossa mente. Agora, já não posso fazer mais nada. Apenas tenho de ir. E ao ver, daqui de cima tudo o que a vida tem, invejo quem ainda pode ter a consciência de saber que o tempo não para, por isso vive o que o tempo dá.

 

In memória de quem já partiu, e que deixa-nos sempre algo...

publicado por opoderdapalavra às 19:48
11 de Setembro de 2008

                            

 

 

Confucio disse:

Os cavalheiros unem-se e não conspiram entre si, os homens inferiores conspiram e não se unem. 

 

Existem pensamentos em que a prisão da mente está arrebatada por um sentimento de desordem, de conspiração, de mentira. Hoje a sociedade está repleta desta inferioridade. As pessoas não se olham, não se tocam, pouco se falam. As conversas esgotam-se na banalidade das palavras. Existe um medo crescente de falar abertamente, de conversar de temas profundos, de frases onde se possam expor ideias novas, conceitos, pontos de vista. Mas o receio do julgamento, a tal conspiração corrosiva, traem qualquer tentativa de o fazer. Mas quando confrontadas por alguém que habita mentalmente noutra dimensão, existe uma atitude defensiva, um obstáculo que não as deixa falar. A sociedade está cada vez mais só, mergulhada num egoísmo altruísta, sem dimensões de referencias base, sem a magnitude de um sentimento altivo.

Sinto-me pássaro nesta sociedade aprisionada pelos conceitos rasos de um egocentrismo prepotente. Sinto que apenas tenho o céu como espaço para poder voar nas ideias, discutindo-as com outras espécies adultas, aves que vagueiam pelo mesmo espaço, que sois vós, amigos, irmãos de vida, filhos deste meu ser, amante, mulher. Porque tem medo eles de falar abertamente connosco? Perguntem-lhes, deixem-os cuspir toda a ignorância e a ingenuidade que os consome. Deixem-os gritar de raiva contra um sistema que os amarra a conceitos étnico-morais falseados pela moléstia arrogância do homem. Deixem-os voar, sentirem a verdade do ar, do vento, do calor do sol, das cores do horizonte, do sabores do tempo. O céu é infinito e cabemos todos neste lugar mágico onde pudemos exprimir o valor de quem somos e do que somos, sempre vivos, ricos de sentidos, milionários de sonhos, e livres. 

Não julgues aquele que podes sempre abraçar.

E assim fico.

publicado por opoderdapalavra às 20:26
02 de Setembro de 2008

 

 

Olho pela janela, vendo as cores que serpenteiam o meu horizonte.

Vejo pássaros cinzas que dançam pelo azul do céu,

Andorinhas pretas que escondem os filhotes no amarelo das casas

Árvores verdes que sustentam os galhos castanhos

Nuvens brancas que escondem o forte vermelho do sol

Flores roxas que se movem numa melódica brincadeira com o vento

Vejo os carros multicolores a correrem pelo negro do asfalto

Vejo telhados cor de tijolo, moradias rosas, azuis, brancas

Vejo um mundo que vive. Uma janela pode ser uma abertura para a vida.

Por vezes descuramos as oportunidades que habitam à nossa volta de mudarmos

Olharmos através de uma pequena abertura é uma delas.

Vivemos cercados pelo azedume de paredes que nos aprisionam aos medos de viver

Vivemos no receio do tempo, apenas contando os dias que perdemos

Vivemos obscurecidos pela enorme cortina de cimento que nos rodeia

Vivemos amordaçados pelas barreiras que erguemos á nossa voz, para que ninguém nos ouça

Não queremos ver o que está para lá de uma simples janela, pois não nos diz respeito

Não queremos olhar o que existe do outro lado, pois pode-nos amarrar a uma verdade inconveniente

Apenas esperamos. Ficamos sentados na monotonia dos dias, fazendo o sedentarismo da mente,

Esperando que algo nos surpreenda, enquanto as oportunidades de surpreendermos a vida vão no vento

Olhai a janela, não temei, apenas olhai-a e vejam o que para lá dela brilha e espera por vós.

As cores, os sabores, os movimentos, os brilhos, os sentidos, as sensações, a vida, a pulsação,

As oportunidades, os caminhos, as direções, os elementos, as estruturas, as bases e os topos.

Tudo vive na harmonia. Faltamos nós apenas. Faltas tu, vem, não temas, este é o momento.

publicado por opoderdapalavra às 21:18
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