Olhem a estrada. Olhem o caminho. Imaginem. Pensem. Reflictam. Não deixem o momento. Apenas este momento, em que tudo pode ser diferente. Imaginem a estrada, funda, sem fim, continua pelo tempo, pelo espaço, pelo horizonte que nunca termina. Essa é a vossa estrada. Não a percam.
caminho com os pés num chão escuro, bruto de morte, sem espelho de vida
sinto a alma sofrida pelas bermas, o espirito vadio pelas frestas do asfalto
a boca perde-se no silencio das palavras, o ouvido seca na ausência som
tenho os pensamentos perdidos nos fundos desta estrada, este caminho perdido
os meus olhos apenas avistam um horizonte ilusório, miragem pura dessincronizada
até mim vem um corvo vagabundo. olha-me. fisga-me de soslaio.
quem tu és, caminhante? pergunta rota de sentido.
sou um morto vivo nesta estrada. respondo pronto.
sorrio por seres morto, fico triste por estares vivo. não prestas para comida. para onde vais?
vou para onde puder descansar deste tempo que me mata.
o tempo que te mata? és tão ignorante, homem, não é o tempo que te mata.
não? então diz-me, passaro, vida viajante, o que me mata?
és tu mesmo. perdido nesse teu egoismo de pensares que algo que existe com ou sem a tua existencia, pode dar importancia à tua existencia. não vales um pouco do que vale o tempo.
raios sejas, estupido passaro, és a mais besta das bestas.
não sou, tu é que és. tu é que teimas em quereres beber da mesma fonte, a da ignorancia, por isso continuas seco, com sede de respostas, quando a água que necessitas sempre esteve na entrada da tua boca.
então porque ela não entrou?
porque tens estado sempre distraido com a tua ganancia, a avareza da tua prepotência, a estupidez do poder do teu vazio.
chamas-me de nomes, como se fosse um ignorante?
e sempre o foste. nunca o admitiste, mas sempre o foste e o serás até ao momento em que souberes que és apenas um pouco do ventre que te pariu e que te abraça todos os dias.
foi-se num espanto, e um pranto tomou a minha alma. sofro de desgosto. não tenho forças.
deixo-me estar nesta estrada. cuspo o sangue na terra e enterro as minas entranhas no profundo buraco do meu ser, esta minha exitencia louca que velo aqui, onde jaz esta minha essencia, puramente desperdicio de vida. assim sou eu, o homem que pensou um dia ser superior à sua própria condição.
nesta estrada, adormeço. neste caminho fica a minha reflexão. que o tempo me leve onde ele quiser.