10 anos depois...
"Naquele dia tudo parou.
Parou o sol, ali junto ao fio de linha que traça o horizonte. Pararam as nuvens, encavalitadas umas nas outras. Parou o vento, com as arvores dobradas. Pararam as abelhas, coladas ao ventre das flores. Pararam os relógios, com os ponteiros colados. Pararam as pessoas, fechadas nas suas casas.
Naquele dia apenas ficou o som do rosário de Nossa Senhora, pendurado sob o alpendre do retrovisor. O radio apagou-se no silencio. Naquele dia ficou apenas o corpo de Lisandro, estendido no banco corrido da frente. Abraçado nos próprios braços, retinha a força das lágrimas e a voz da angustia. Olhos bem fechados, quase a esmagarem as retinas. Peito recolhido e as pernas dobradas em duas partes.
Aquele dia esvaziou-se de tempo. Mas até aquele dia tem um passado, uma historia por contar. E aquele presente terá um futuro, palavras a escrever. (...)"