podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
22 de Maio de 2015

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Vivemos momentos de vaidades gratuitas. Muitos foram os que, nas últimas semanas, se colocaram em bicos de pés, para se agruparem em juízos fáceis, reparando desde logo, a ausência de um sentimento de culpa, face a uma sociedade sem costumes, sem prioridades de valores. Momentos de café, dedos de conversa intermináveis pelo Telemóvel, e muitos, mas mesmo muitos posts no Facebook, à procura de likes e mais likes, às críticas, ao espanto absorto e quase diabólico, à perplexidade do que era noticiado nos jornais, televisões, e mais afins. Falo dos vídeos de violência entre adolescentes, na morte de adolescentes, falo da violência de policias em jogos de futebol, falo de claques que recebem jogadores com picaretas, falo das imagens de um país que se afunda numa mescla de hipocrisia barata, ignorante e pior, inconsciente. Porque é de consciência que falo. A falta dela tornou-se numa fogueira de vaidades, em que o alimento mais próximo é o mal dos outros, é a angústia alheia, é o inferno que mora na casa do vizinho e muitas rezas são feitas para não entrar na minha. Então somos mesmo o país do Big Brother, somos uma mera casa de segredos que teimamos em alimentar, apenas para desviar as atenções de quem realmente somos e o que somos. Entrar dentro de si, ir ao seu fundo, ver as suas feridas, olhá-las, admitir que elas existem, tratá-las e amá-las é algo muito complicado para esta cultura que se perde em falsas teorias de bons costumes. Uma cultura submersa em padrões. Vaidades. São meras vaidades. Nós humanos somos também maus, todos nós. O gene animal não é repartido em duas partes, um grupo fica com o mau e o outro com o bom. O gene animal é ter as duas partes num só indivíduo. Nós temos a dualidade. Freud defendeu isto, e outros tantos também. Mas, numa sociedade contemporânea, que de tal nada tem, prefere apontar o dedo, colocar-se no pedestal da perfeição e atirar pedras e cuspe para aqueles que combatem em pleno circo. O que falha na educação dos adolescentes? O que falha na falta de controle de um polícia perante uma adversidade? O que falha nesta fogueira de vaidades? Para mim falha a viagem. O entrar dentro, o desviar para uma responsabilidade colectiva o que ao individual pertence. As sociedades devem ser construídas de dentro para fora, do indivíduo para o colectivo. Não é uma teoria milagrosa, porque esses apenas existem nas crenças de cada um, mas é o caminho que cumpre um factor essencial: o de descobrir o princípio da nossa existência. Não existimos para parecer, mas sim para Ser. E para Ser temos de descobrir, dentro de nós, o que cada um é de facto. O que é que essa viagem interior pode alterar nos vídeos, nas violências, e em tudo mais? Um princípio altera, o de deixarmos de padronizar a vida. Ela não é justa ou injusta, ela não é só bem ou só mal, ela não tem piedade ou compaixão. Ela é o que é. Mas dá-nos uma oportunidade, de sermos nós a descobrir as nossas respostas, sentindo-as e vivendo-as. A violência, a guerra, a morte, a dor, a injustiça, a revolta... tudo sempre existiu. E não é com frases feitas, julgamentos e linchamentos públicos que se chega lá. Eu sou pai, posso ser o melhor pai do mundo para os meus filhos ou ser o pior trauma para eles. O que quero dizer é que o meu amor existe, e não deve depender do que eles pensem de mim e o do meu pensamento de Super Ego sobre o julgamentos que eu possa fazer à minha própria condição de pai. Depende sim da consciência que eu tenha sobre esse amor. O tomar consciência se ele de facto existe mesmo ou não e se existir é a verdade, logo é o caminho livre, independente dos juízos, das vaidades externas ou das opiniões supostamente altruístas dos outros. Eu sou pai, mas não posso ser os meus filhos. Esse papel tenho-o com os meus pais, mas também não sou eles e nem eles sou eu. Logo, ser pai não é ser um padrão. É ser uma responsabilidade individual e uma vivência única e Una. Complicado? Não, é apenas o reflexo do que se descobre dentro e nunca fora. Logo, os vídeos são violentos, são. As notícias são violentas, são. Mas tudo é o espelho do que somos enquanto indivíduos. Há dias um grande amigo dizia-me: " Aproveita sempre todos os que te fazem mal, ou todos os padrões de suposto erro que possas viver, pois são as tuas melhores lições, e são as tuas melhores oportunidades de descobrires quem tu és." Vivemos muito em padrões. Vivemos muito dentro de uma caixa própria, não dentro de nós, mas dentro de um círculo de conforto, onde pensamos ser reis e donos do mundo. Eu também tenho esse círculo. Procuro todos os dias em sair dele cada vez mais. Procuro aprender não só com o que as pessoas me deixaram, mas também com o que delas posso aprender para me conhecer mais e melhor. Notas importantes: caminhos sempre da perfeição para a imperfeição, pois é da imperfeição que vem a descoberta. Não viajo para mudar o mundo, viajo dentro de mim para mudar um mundo, que terá o reflexo na mudança do mundo... Pois o meu mundo exterior é reflexo do meu mundo interior.

publicado por opoderdapalavra às 13:37

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