podes pensar, podes falar, mas tudo o que escrevas tem o poder de ficar.
29 de Novembro de 2010

 

 

 

Ontem tive uma tertúlia interessante sobre o Amor.

O Amor, esta palavra tão desejada quanto o mais puro ouro, é fruto de incongruências, de fustigadas discussões, de malvadas interpretações. Escutava ontem que o Amor é tão difícil, que conseguimos amar um pai, uma mãe, um irmão, um amigo, mas é-nos difícil amar um companheiro ou companheira. Falava-se que nos dias de hoje, as pessoas são cada vez mais egoístas, mais requisitadas para outras funções, que estão mais absorvidas pelo trabalho, pelas tarefas diárias que as separam do Amor a alguém. Falou-se que antigamente as pessoas conseguiam ter mais tempo para amarem. Antigamente as pessoas tinham mais paciência, mais disponibilidades. Hoje não. Outro argumento foi também o facto de a mulher ganhar independência do homem. E outros argumentos foram debatidos, mas penso que já tenho matéria para analisar.

Fico alienado, sempre que se fala de Amor. Penso ser um Alien, um ser estranho a tudo o resto. Não sou de facto exemplo para demonstrar o que é o Amor, podem dizer. Afinal tenho as minhas relações falhadas... ou não foram? Eu apenas sei que quando amo, amo de forma despretensiosa, sem procurar o retorno, o toma lá dá cá. Amo, partilho esse sentimento, dou-me. O resultado disso, sou verdadeiro. Sou apenas um ser humano que vive, que desfruta do que tem dentro de si. Que sorri pelo que sente.

O Amor é uma palavra e não um sentimento. Não se consegue sentir apenas amor. Consegue-se sim sentir-se amizade, paixão, cumplicidade, carinho, uma série de sentimentos que ao mesmo tempo constroem o resultado final que se dá pelo nome de Amor. Logo aqui as pessoas estão confundidas, porque ele não é um só, mas sim um conjunto de vários.

O Amor não é uma desculpa, nem precisa delas. O Amor é um fruto, uma árvore que se rega, que se trata e que se desfruta. Mas existem as várias estações do ano para o Amor. O inverno, onde a dor parece tornar-nos frios, despido-nos e tornando-nos fragilizados. Nestas alturas é preciso aquece-lo, dar-lhe uma fogueira para que ele se aconchegue e se sinta querido. Existe o Outono, uma situação onde a tristeza abunda, onde a melancolia atravessa os dias. Aqui devemos abrir caminho para as reflexões, em conjunto, para o dialogo aberto, sério e objectivo. Existe a Primavera, altura das paixões e o Verão, em que os desejos vêem ao de cima. São altura de desfruta-lo plenamente.

Hoje as pessoas perdem mais tempo em arranjarem desculpas para amarem, do que amarem de verdade. O verdadeiro problema começa na definição pessoal de Amor. Não existe uma definição global nem pessoal. O Amor existe e ponto. Se conseguem amar um Amigo de forma livre, porque não conseguem amar um companheiro da mesma forma?

Porque talvez o Amigo não seja a imagem de Princepe encantado que se tem previamente formatado no inconsciente. Ou de princesa perfeita. Quando conhecemos alguém e começamos a despertar um sentimento por essa pessoa, procuramos transformá-la. Em primeiro lugar queremos que ela corresponda a uma imagem que desejamos para o nosso companheiro(a). Com isto não deixamos que ele(a) se mostre como realmente o é, e caímos na falta de respeito por ele(a).  O Amor é para se descobrir e não para se moldar. O Amor é livre, ele não existe para ser uma imagem à nossa imagem.

Depois quando pensamos que amamos, queremos é receber, entrar numa série de trocas directas. Eu dou-te, agora dás-me tu. O Amor não se compra, oferece-se, nada mais. Partilha-se, nada mais. Mas, para animar a coisa, as pessoas tem por habito de entregar nas mãos do outro(a) a sua felicidade, e depois se ele(a) não for capaz de o fazer, é o CULPADO! Sim, porque no meio do Amor aparece sempre a vontade de encontrar o culpado para os males do Amor. Mas a culpa morre a partir do momento em que duas pessoas se entregam num suposto sentimento. É a fase do Aceitar. Aceitarmos o outro.

Hoje não se ama, apenas se conquista. Pensa-se que Amar é conquistar uma espécie de troféu, e coloca-lo na beira da lareira, mostrando-o(a) às pessoas que vamos encontrando na vida. As pessoas acham que a pessoa amada é uma conquista e não alguém que se descobre e nos interessamos por ela.

Depois vem os sacrifícios. O Amor é feito deles também. Mas as pessoas não estão dispostas a eles. Não querem logo abdicar do seu ego, da sua forma altruísta de pensarem. Eu sou como sou, se ele(a) quiser tem de gostar de mim como sou. Verdade! Mas e pensa o mesmo em relação ao outro? Não. Quem pensa assim não quer abdicar de nada, apenas quer alguém para não ficar sozinho, mas rapidamente está sozinho(a), porque não está a amar de verdade, está sim a dizer que tem uma relação. Amar não é ter uma relação, amar é simplesmente isso, AMAR. PARTILHAR. VIVER. SENTIR. CAMINHAR.

A melhor definição do amor, já a escrevi aqui um dia, é esta:

Não caminhes atrás de mim que posso me esquecer de ti. Não caminhes à minha frente, que eu posso não conseguir acompanhar-te. Não caminhes por baixo de mim, porque posso magoar-te. Não caminhes em cima de mim, porque posso cansar-me de ti. Caminha simplesmente a meu lado, porque somos iguais.

As pessoas arranjam desculpas para amarem. É o tempo que não tem. É o trabalho. É o dia a dia que não nos permite ter paciência. É isto e aquilo. Só desculpas. Mas são apenas vontades. Vontades de não quererem assumir a responsabilidade de amarem de verdade, porque tem medo disso. Tem medo de terem que olhar para outra pessoa como um ser igual, como alguém que caminha a seu lado. Tem medo de perder identidade, de perder estatuto, de se perderem dentro de uma relação. As pessoas tem um problema com o Amor e não uma vontade de amarem e serem amadas. Esse é que é o problema dos dias de hoje. Antigamente, as pessoas valorizavam um companheiro(a). Sabiam que caminhavam juntos. Foi também a submissão da mulher, mas as pessoas sabiam que o Amor é uma caminhada e não uma conquista.

Amem. Porque se amam um pai, uma mãe, um irmão ou um Amigo, é porque o sabem fazer, logo já descobriram o amor. Mas amar livremente não é ficar dependente, ficar preso, mas sim saber que o caminho não pode ser feito sozinho. Tem de ser feito, na totalidade, a dois. Senão não existe amor dos dois lados. Apenas uma propriedade de um deles. O que ama, bem, segue o seu caminho, de forma livre. O que pensa que tem um amor, esse fica na idéia eterna de que a propriedade é sua, e quando a vê partir, aponta-lhe o dedo como o cerne de todos os seus males.

Existem palavras importantes a reter no Amor: RESPEITO, ACEITAR, DESCULPAR, PERDÃO, PODERAÇÃO, DIÁLOGO, SACRIFICIO, CRESCIMENTO COM A DOR.

AMAR NÃO É SER PROPRIETARIO, AMAR É SER-SE ALGUÉM AO LADO DE ALGUÉM.

E NÃO PENSEM NO AMOR PARA TODO O SEMPRE, PENSEM NO AMOR TODOS OS DIAS.

publicado por opoderdapalavra às 00:05
Novembro 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
12
13
14
17
18
19
20
22
23
25
26
27
28
30
Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Posts mais comentados
5 comentários
4 comentários
4 comentários
3 comentários
2 comentários
2 comentários
2 comentários
mais sobre mim
pesquisar neste blog
 
últ. comentários
José Hermano Saraiva costumava dizer que a pátria ...
Ao ler esse texto senti orgulho no peito, o mesmo ...
Encontrei o texto hoje...Uma pequena correcção, as...
Obrigado Isabel. Concordo consigo, os Amigos apena...
Carlos, bonita homenagem a um amigo. Que o Luís re...
O que mais me chama a atenção, neste...
A tua escrita acompanha o teu espírito. Amadurece ...
Grata, sorrisos :o)
Quente.Arrebatador.
Leitura muito agradável :)Convido a leitura do meu...
blogs SAPO