E naquele dia choveram flores. Não foram gotas de água pura, evaporada dos lagos e oceanos ou transpirada das árvores e arbustos, mas sim flores, milhares delas, margaridas, crisantos, malmequeres, rosas ou girassóis. Choveram, cobrindo a terra de um colorido nunca avistado por aquelas paragens, onde o perfume intenso se arrastava por quilómetros e quilómetros sem parecer que parasse. Olhar o céu repleto de flores que dançam pelo decore de nuvens cinzas, carregadas de um negrume arrepiante, é um sentido inigualável. Criou um certo sentido inverso do planeta, uma sensação de que o céu virara jardim e a terra um carregado e escuro céu.
A pergunta “ de onde vêem estas flores todas?” correu o pensamento de todos os habitantes da cidade. Uns benziam-se, apregoando rezas de espantar maus espíritos; outros estavam tão boquiabertos, que até as pétalas mais pequenas eram engolidas; havia aqueles que fugiam, refugiando-se dentro de lojas e casas, assustados com a possibilidade de saírem feridos de algum amasso de flor, chegando mesmo a gritarem aos que passavam nas ruas, observando aquele maravilhoso fenómeno.